tag:blogger.com,1999:blog-76315646661726486372024-02-20T07:35:34.302-08:00AS CARTAS DE BALZAC AS CARTAS DE BALZAC - A história de Balzac e suas cartas da Comédia Humana.livrosdoromeo.blogspot.com http://www.blogger.com/profile/17597755348271466103noreply@blogger.comBlogger17125tag:blogger.com,1999:blog-7631564666172648637.post-46408351013529118632014-10-04T12:42:00.001-07:002020-11-18T09:20:51.150-08:00BALZAC E SEU PENSAMENTO POLÍTICO <div style="text-align: center;">
<b>"INTERMEZZO" POLÍTICO DE BALZAC </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJ-PxHgDyf3MphzLmUF5Co2_8bnb5atZdN-3DSSaKWfqvisqv3GtSTrSHEzwD-2CcpOjov1BbebV9_KEuGBXXb-vii6xvEL-qeCB47afyHFoOS1lC1fp_g0wLM9akECPdaqbixvu99npI/s1600/safe_image+(1).jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJ-PxHgDyf3MphzLmUF5Co2_8bnb5atZdN-3DSSaKWfqvisqv3GtSTrSHEzwD-2CcpOjov1BbebV9_KEuGBXXb-vii6xvEL-qeCB47afyHFoOS1lC1fp_g0wLM9akECPdaqbixvu99npI/s1600/safe_image+(1).jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> " Antes, porém, dessa viagens ao estrangeiro, cuja série começará em 1833, vemos Balzac cruzar a França em todos os sentidos. Ao aceitar o convite de amigos ou amigas, tem sempre em vista a possibilidade de achar para a ação de um ou outro romance em preparo, algum cenário inexplorado: Issoudun, Nemours, Angoulême, Saumur, etc.... Poder-se-ia fazer um mapa quase pleno da França com as localidades que o gênio de Balzac introduziu na literatura. "<i>Uma das razões que explicam a rápida voga do senhor de Balzac por toda a França" - </i>observa a esse respeito Saint-Beuve, o grande adversário do romancista que, para explicar-lhe o bom êxito, admitia todas as razões menos o gênio - "é a habilidade na escolha sucessiva dos lugares onde coloca o cenário de suas narrativas... Esta lisonja dirigida a cada cidade em que o autor situa as suas personagens significa para ele a conquista da mesma; a esperança que tem as cidades ainda obscuras de serem em breve descritas em algum romance novo, predispõe para ele todos os corações literários do lugar. - Este pelo menos - dizem - não é orgulhoso; não é exclusivamente parisiense, e de sua <i>Chaussée d'Antin </i>não despreza as nossas ruas e as nossas granjas." </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Por volta de 1831, as viagens de Balzac, no entanto, um outro fim além do literário. Confiando na popularidade do seu nome, quer, precisamente, sair do terreno da literatura. Desejoso de não apenas observar e descrever, mas plasmar a evolução da sociedade, candidata-se às eleições legislativas em Cambrai e em Angoulême . Para ser eleito conta especialmente com o apoio da alta sociedade, pois esse plebeu está resolvido a fazer-se campeão da aristocracia. Todos aqueles que gostam de ver os grandes escritores na primeira fila dos que combatem pela ascensão das classes laboriosas e para a encarnação, nas instituições do Estado, do espírito de liberdade, hão de notar, com tristeza, que desde o começo de sua carreira Balzac se filiou à outra frente, adotando um programa político nitidamente conservador e mesmo reacionário. A este respeito, <i>o Prefácio da Comédia Humana, </i>escrito em 1842, contém uma exposição bastante categórica; mas já doze anos antes, numa carta à senhora Zulma Carraud, Balzac faz uma profissão de fé política no mesmo sentido. Achamos interessante citar-lhe os itens principais, pois esclarecem muitos trechos da <i>Comédia Humana </i>em que as personagens ou o próprio autor comentam assuntos políticos: "A França deve ser uma monarquia constitucional, ter uma família real hereditária, uma Câmara dos Pares extremamente poderosa que represente a propriedade com todas as garantias possíveis de hereditariedade e privilégios, cuja natureza deve ser discutida; depois, uma segunda Assembléia, eletiva, que represente os interesses da massa intermediária que separa as altas posições sociais do que se chama povo. A massa das leis e seu espírito devem tender a procurar esclarecer o <i>mais possível </i>o povo, as pessoas que não tem nada, os operários, os proletários, etc., a fim de fazer chegar o maior número possível de homens ao estado de bem-estar que distingue a massa intermediário; contudo, o povo deve ser deixado sob o mais poderoso dos jugos; deve ter toda a oportunidade para que seus indivíduos possam encontrar luzes, auxílio e proteção, e para que nenhuma ideia, forma ou transação o torne turbulento. A maior liberdade possível à classe abstrata; pois esta possui algo para conservar e pode perder tudo; esta nuca será licenciosa. Ao governo, a maior força possível. Assim o governo, os ricos e os burgueses tem interesse em tornar feliz a classe ínfima, e engrandecer a classe média, na qual reside a verdadeira força dos Estados. Se as pessoas ricas, as fortunas hereditárias da Câmara Alta, corrompidas por seu modo de viver, praticam abusos, estes são inseparáveis da existência de toda a sociedade; é preciso aceitá-los com as vantagens que oferecem". </b></div>
<div style="text-align: justify;"><b> Para Balzac, este sistema, se não é perfeito, parece o menos o menos defeituoso de todos, pois reúne "as condições boas e filantrópicas de vários outros; eis que afirma em 1830: "Nuca abandonarei este sistema" - r realmente conservou-se fiel a ele até o fim da vida.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Quando, pouco depois de ter escrito esta carta, Balzac se lembrou de tomar parte ativa na política, candidatando-se às eleições, procurou o partido cujas ideias mais se assemelhassem às suas, e achou-o no partido legitimista. No seio deste havia uma cisão. Quando da instalação da Monarquia de Julho, em seguida à revolução de 1830, a maior parte dos deputados e dos pares monarquistas recusaram-se a prestar juramento de fidelidade a um regime que consideravam usurpador; uma minoria, porém, resignou-se ao juramento para poder combater, como oposição ativa, o novo governo. O duque de Fitz-James era chefe dessa facção, cujas ideias eram expostas no <i>Rénovanteur,</i> órgão redigido por Laurentine, a cujo convite de colaboração Balzac respondeu com entusiasmo. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> É forçoso reconhecer que as ideias expostas na carta acima são as da "direita"; no entanto, esta profissão de fé não coincide de modo preciso com a conclusão geral que cada leitor desprevenido tira naturalmente da <i>Comédia Humana. </i>Balzac faz-se paladino do sistema político e social vigente em seu tempo e da predominância da Igreja católica, mas seus livros constituem, com pouca exceções, outros tantos golpes demolidores assestados aos alicerces do edifício social e religioso de seu tempo. Apesar de várias tentativas da crítica monarquista e conservadora francesa (Barbey d'Aurvilly, Bouget, etc.) para demonstrar a coerência entre o pensamento político e a obra literária de romancista, parece que Victor Hugo teve mais razão ao afirmar, na poderosa oração pronunciada sobre o túmulo de Balzac, que este, quisesse ou não, pertencia "a forte raça dos escritores revolucionários". </b></div>
<div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><b> Nas páginas da <i>Comédia Humana </i>as opiniões conservadoras de Balzac ocorrem frequentemente, ora atribuídas a personagens das altas classes sociais, ora nas frequentes interrupções da ação, como palavras do próprio autor. Apesar disso a obra literária de Balzac é essencialmente imparcial, pois suas convicções políticas nunca levamo escritor a alterar seja o que for no que ele considera a observação e expressão da realidade. Cupre citar a este respeito uma das justificações com que o político Balzac procura afastar o ressentimento de leitores conservadores contra o escritor Balzac por ter este apresentado um fidalgo degenerado num dos capítulos de <i>Modesta Mignon. "... </i>quando as grandes coisas humanas se vão, deixam migalhas... e a nobreza francesa mostra-nos, neste século, demasiados restos. Não há dúvida de que, nesta longa história de costumes na <i>Comédia Humana, </i>nem o clero nem a nobreza tem de se queixar. Essas duas grandes e magníficas necessidades sociais acham-se nela bem representadas; mas não ser imparcial, não mostrar aqui a degenerescência da raça, não equivaleria a renunciar ao belo título de historiador...? Este belo título nuca lhe foi contestado pelos intelectuais da esquerda. O próprio Marx lia-o com entusiasmo, e Engels prestou-lhe homenagem neste significativo trecho de carta: "Balzac... nos dá, em sua <i>Comédia Humana, </i>a história mais maravilhosamente realista da <i>societé </i>francesa... descrevendo sob forma de crônica de costumes, quase de ano em ano, de 1816 a 1848, a pressão cada vez maior que a burguesia ascendente exercia sobre a nobreza que se reconstituíra depois de 1815 e que, <i>tant bien que mal, </i>na medida do possível, levantava outra vez a bandeira da <i>Vieille politesse française. </i>Descreve como os últimos restos dessa sociedade, para ele exemplar, sucumbiram aos poucos em face da intrusão do <i>parvenu </i>vulgar da finança, ou foram por este corrompidos; como a grande dama cujas infidelidades conjugais não eram senão um meio perfeito de se adaptar à maneira por que se dispunha dela no casamento, cedeu lugar à burguesa que procurou um marido para ter dinheiro ou <i>toilettes, </i>em volta deste quadro central agrupa toda a história da sociedade francesa, onde eu aprendi mais, mesmo no que concerne aos pormenores econômicos (por exemplo a redistribuição da propriedade real e pessoal depois da Revolução) do que em todos os livros dos historiadores, economistas e estatísticos profissionais da época, todos juntos. Sem dúvida, Balzac era legitimista na política; sua grande obra é uma elegia perpétua que deplora a irremediável decomposição da alta sociedade; suas simpatias vão para a classe condenada a morrer. Mas, apesar de tudo isto, sua sátira nunca é uma incisiva, sua ironia mais amarga, do que quando faz agir esses aristocratas, esses mesmos homens e mulheres pelos quais experimentava tão profunda simpatia. E... os únicos homens de quem fala com admiração não dissimulada são seus adversários políticos mais encarniçados, os heróis republicanos da rua do Cloítre Saint-Merri (cenário da insurreição popular de 5 e 6 de junho de 1832), os homens que nesta época representavam realmente as massas populares." </b></div>
<b><div style="text-align: justify;"><b> Pode-se lamentar, pois, que Balzac tenha professado um credo reacionário; mas isto não lhe altera nem a imparcialidade nem o valor da obra, e há nisto mais uma prova de seu gênio. Ainda hoje, Paul Louis, historiador de socialismo francês, ao procurar reconstruir os tipos sociais do período do capitalismo nascente, recorre ao monumental inventário feito pelo monarquista e católico Balzac. </b></div></b><div style="text-align: justify;"><b> Retomando a vida de Balzac no ponto onde a deixamos, observaremos que o escritor, para bem da literatura, não foi eleito deputado nem em 1831, nem em 1832, nem mais tarde, a despeito do apoio que lhe foi prometido pelo duque de Fitz-James. Dir-se-ia que o partido monarquista não se empenhava muito em ajudar um aliado tão perigoso. Por outro lado, Balzac, premiado por seus compromissos literários e acossado pelos credores, não dispunha do tempo necessário a uma campanha eleitoral. mantendo embora as mesmas ideias, afastou-se progressivamente do partido, cujos jornais em seguida o agrediram mais de uma vez por suas teorias, insuficientemente ortodoxas, e por sua pretensa imortalidade. " </b></div>
<b>P.R. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
Nicéas Romeo Zanchetthttp://www.blogger.com/profile/02379067383684275947noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7631564666172648637.post-344071101844952722014-07-21T07:36:00.001-07:002014-07-21T11:42:17.968-07:00BALZAC - OS ANOS MAIS FELIZES <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQeR1ETgUWhnX4NrsPU1HryAEkwlBt2f1OdUfAvaXH0d0858k1HdufWPawCSBpMK63QQMcX2kIOkSRxaghtlsI-kF0dAHsWntQN5sSPRCqSttdiy3GOL8tiCMKVIjp9658tXIiX2rUfiY/s1600/Claudio+BRAVO+by+Catherine+La+Rose++(22).jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQeR1ETgUWhnX4NrsPU1HryAEkwlBt2f1OdUfAvaXH0d0858k1HdufWPawCSBpMK63QQMcX2kIOkSRxaghtlsI-kF0dAHsWntQN5sSPRCqSttdiy3GOL8tiCMKVIjp9658tXIiX2rUfiY/s1600/Claudio+BRAVO+by+Catherine+La+Rose++(22).jpg" height="213" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Começa então uma atividade literária espantosa, espetáculo sem par na história literária. Os jornais, as revistas abriam as portas ao novo talento, o Balzac atendia a todos os convites. Só em 1830, além dos inúmeros artigos, escreveu as seguintes obras das que hoje compõem a <i>"Comédia Humana": El Verdugo, Estudo de Mulher, </i>as seis novelas das <i>"Cenas da Vida Privada"; A paz Conjugal, Ao "Chat-qui-pelote", O Baile de Sceaux, A Vendeta , Gobseck, Uma Dupla Família, </i>e, ainda, <i>Adeus, O Elixir de Longa Vida, Sarrasine, Uma Paixão no deserto, Um Episódio de Terror, </i>sem falar de grandes trechos de <i>Pequenas Misérias da Vida Conjugal, Beatriz, a Pele de Onagro, Catarina de Médicis. </i>Os leitores descobriam, admirados, nestes esplêndidos contos e fragmentos de romances, o próprio mundo em que viviam, seu salão, sua sala de jantar e, mesmo, seu quarto de dormir, não somente representados com fidelidade, mas interpretados, revestidos de uma importância que nunca se lhe teria atribuído, realçados por assim dizer, à dignidade de documentos históricos. A popularidade do escritor aumenta a cada dia, principalmente nas rodas femininas, que encontram nele um conhecedor admirável de seus segredos mais escondidos. Multiplicam-se os convites mundanos, e, sinal ainda mais evidente do sucesso, as cartas de mulher, umas anônimas, outras com nome e endereço completo, chovem às dúzias. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Sem parar, como quem depois de longo silêncio recupera a voz, o escritor lança uma obra após a outra: <i>O Conscrito, Os Proscritos, A Obra-prima Desconhecida, A Estalagem Vermelha, A Pele de Onagro, Jesus Cristo em Flandres, Mestre Cornelius, </i>sem falar numa multidão de artigos e crônicas e em grande parte da <i>Mulher de Trinta Anos - </i>e ainda estamos no final de 1831! </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Os anos 1930 e 1931... são, talvez, os anos mais felizes da ida de Balzac. Após uma série tão longa de insucessos e dissabores, eis o êxito pleno, fragoroso, esplêndido, tal como o sonhava. Herói do dia, bem-vindo em todos os salões, tratado como igual pelos contemporâneos mais ilustres: Hugo, Lamartine, Nodier, George Sand e tantos outros. Cheio de ideias, de projetos, de energia, basta que entre numa sala para se tornar, imediatamente o centro do interesse. Fala muito, mas o assunto é inevitavelmente um só: ele mesmo. Fala nos livros que já fez, que está fazendo, que fará; conta as suas "orgias de trabalho", as filas de noites passadas à escrivaninha, as xícaras de café com que mantém a excitação do cérebro; apresenta as personagens de seus livros futuros, os enredos em que as pretende meter, os nomes que para elas achou; gaba dos bibelôs que encontrou na loja de um antiquário e as riquezas de sua casa, em parte imaginárias. Os ouvintes ficam basbaques, trocam olhares espantados. As pessoas que o conheciam nessa época, pintam-no como homem antes feio que bonito, com uma gordura incipiente que a vida sedentária acentua cada vez mais; vestido simplesmente em desalinho ou com elegância espalhafatosa; baixo, atarracado, de nariz disforme, rosto redondo, cabelos compridos, e uns olhos cujo brilho devia ser algo de excepcional, pois nenhuma testemunha deixa de falar no fogo desses "olhos de ouro". </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> - Pueril e poderoso, - escreve George Sand, que o conheceu nessa época - sempre com inveja de algum bibelô e nunca ciumento de uma glória, sincero até à modéstia, jactancioso até à bazófia, confiante em si mesmo e nos outros, muito expansivo, muito bom e muito maluco, com um santuário de razão interior onde se recolhia para dominar tudo em sua obra, cínico porém casto, ébrio bebendo água, intemperante no trabalho e sóbrio em outras paixões, positivo e romanesco com excesso igual, crédulo e céptico, cheio de contrastes e de mistérios, assim era Balzac ainda moço, já inexplicável para quem se cansava com o estudo demasiadamente constante dele mesmo a que ele condenava os amigos, e tudo o que ainda não parecia a todos tão interessante como realmente era... A sua alma era de uma grande serenidade, e em momento algum o vi carrancudo". </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> A partir da <i>Fisiologia do Casamento, </i>Balzac começou a ganhar bem com a sua pena, até muito bem, e os seus honorários, calculado no valor do dinheiro de hoje, dariam importâncias elevadíssimas. Podia finalmente, em dois ou três anos, liquidar as suas dívidas, e ainda lhe restava com que viver muito bem. Mas, em vez de diminuir, estas aumentavam constantemente, em razão da vida luxuosa do nosso escritor, com suas pretensões a dândi que não dispensa uma casa brilhante, caleça, cavalos, móveis artísticos, ternos magníficos (não se esqueça que a moda masculina de então era muito menos uniformizada do que hoje, permitindo uma escala extraordinária de fazendas, de cores e de cortes diferentes), todas essas coisas que criam em redor da pessoa uma auréola publicitária na crônica mundana dos jornais. De todas as suas extravagâncias ficou famosa a sua enorme bengala ornada de pedras preciosas, que forneceu à senhora de Girardin o assunto para todo um romance. Junte-se a isto a sua paixão de colecionador de objetos de arte e antiguidades, que, com o correr dos anos, se transformou em mania. Assim, as suas finanças nunca chegaram a um ponto de equilíbrio, e foi preciso que ele morresse para suas dividas poderem ser saldadas com a renda dos direitos autorais. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> "Uma bela manhã" - conta ainda George Sand - Balzac, tendo vendido bem a <i>Pele de Onagro, </i>desprezou a sua sobre loja e quis deixá-la; mas, depois de refletir, contentou-se de transformar seus pequenos quadros num conjunto de <i>boudoirs </i>de Marquesa e um belo dia convidou-nos a tomar sorvete entre suas paredes cobertas de seda e bordadas de renda. Isto me fez rir muito; não pensava que ele levasse a sério esta necessidade de <i>luxo vão </i>e que aquilo fosse para ele mais do que uma fantasia passageira. Enganava-me; essas necessidades de imaginação faceira, tornaram-se os tiranos de sua vida, e para satisfazê-las sacrificou mais de uma vez o bem-estar mais elementar. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> A partir dessa época, a vida de Balzac torna-se complicada para os biógrafos; ele como que se comprazia em dificultar-lhes a tarefa. "Ninguém pode ter a pretensão de fazer uma biografia completa de Balzac; qualquer ligação com ele era necessariamente cortada por lacunas, ausências e desaparições. O trabalho dominava de modo absoluto a sua vida" - afirma o amigo Théophile Gautier. De fato, Balzac desaparecia frequentemente durante semanas inteiras, emergindo ora nesta, ora naquela cidadezinha, em casa de um ou de outro amigo, para descansar de algum esforço excepcional e, mais frequentemente ainda, desaparecia para acabar no silêncio da província algum livro que incubava. Outras vezes os amigos acreditavam-no em viagem, mas ele estava em Paris, escondido numa residência secreta a escrever, mas também a fugir dos credores e às convocações da Guarda Nacional; depois, ao cabo de uma reclusão voluntária de trinta ou quarenta dias, reaparecia brandindo alguma nova obra-prima. Em outras ocasiões, quando os amigos o acreditavam em casa, recebiam dele um bilhete vindo da Itália, da Suíça, da Alemanha ou da Rússia, e isto num tempo em que as viagens eram muito mais incômodas e demoradas do que hoje." </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>P.R. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>.</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>Esta é apenas mais uma parcela da história de Balzac. Para compreender melhor sua obra Veja > <a href="http://ascartasdebalzac.blogspot.com.br/">AS CARTAS DE BALZAC </a></b></div>
Nicéas Romeo ZanchettNicéas Romeo Zanchetthttp://www.blogger.com/profile/02379067383684275947noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7631564666172648637.post-82273894392996311732014-07-21T03:51:00.001-07:002020-11-18T09:26:23.647-08:00BALZAC - O PRIMEIRO ROMANCE DE VERDADE - <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidHX93VaQYfhUDGnfEJHZJ_Y02Xr0axRh5FSzJXLOY6V45xQVjWyINI-nyzFUWFFjpqOWdTvskqLPJoZh6jvJRJI7sQt4jk0CAjojvJn6n8tyLnu2TUwqBldo9nDbVROyfTLWYiB39xqM/s1600/livro.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidHX93VaQYfhUDGnfEJHZJ_Y02Xr0axRh5FSzJXLOY6V45xQVjWyINI-nyzFUWFFjpqOWdTvskqLPJoZh6jvJRJI7sQt4jk0CAjojvJn6n8tyLnu2TUwqBldo9nDbVROyfTLWYiB39xqM/s1600/livro.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b>"Havia anos, Balzac devorava os romances de Walter Scot, que desde 1814, data da publicação de Wawerley, conheceram uma sucessão ininterrupta de êxitos dentro e fora da Inglaterra. Lia com entusiasmo crescente todas as obras traduzidas em francês desse "<i>trouvieur" </i>moderno, que "elevava o romance ao valor filosófico da história", unindo nele "o drama, o diálogo, o retrato, a paisagem, a descrição, e introduzindo no gênero "o maravilhoso e o verdadeiro, esses elementos da epopeia. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b> Com exceção de dois romances, <i>Guy Mannering e The Antiquary, </i>de assunto moderno, todas as outras narrativas em prosa de Scot entram na categoria de romance histórico. O escritor escocês revivia as épocas heroicas de seu país em amplas visões épicas cheias de poesia. Saíra cedo do gênero frenético e sombrio, distinguindo-se logo por um talento equilibrado e feliz e pelo trabalho consciencioso que se impunha na reconstrução do ambiente histórico por meio de uma infinidade de pormenores, fruto de pacientes pesquisas. Fazia viagens periódicas nas regiões da Escócia que escolhera para cenário de seus romances, examinava os lugares, visitava as casas antigas, percorria os arquivos, dava uma verdadeira caça às antiguidades, criando assim o romance histórico baseado em documentos. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b> A leitura dos livros de Scot fizera Balzac compreender ainda mais a nulidade de suas primeira tentativas literárias. As suas personagens, fantoches sem realidade, movimentavam-se no vácuo, faltando-lhes o dom da vida e, em volta delas, um ambiente de verossimilhança. Mas a aprendizagem da vida e as leituras modificam completamente o seu conceito de literatura. Tinha agora um assunto grandioso, que, bem realizado, podia dar um verdadeiro fresco da história recente da França; queria dar um quadro da sangrenta insurreição dos <i>Chouans, </i>os monarquistas da Bretanha, contra a Revolução Francesa, e, bem no centro, a história empolgante da paixão de uma bela espiã, ao serviço do governo, pelo chefe das forças rebeldes que viera espionar e seduzir. Movido pelo exemplo de Scot, e aproveitando a hospitalidade de uma casa amiga, dirigiu-se a Fougères, na Bretanha, para aí estudar de perto o seu cenário. Não se contentou em examinar os lugares. A lembrança da insurreição ainda estava viva: pôs-se a procurar informações, a recolher o testemunho de pessoas idosas, a anotar tudo, e voltou a Paris com o manuscrito quase pronto do primeiro romance de verdade que sairia da sua pena e que não hesitaria mais em assinar: <i>"Le Dernier Chouan ou la Bretagne en 1800 (</i> titulo mudado mais tarde para <i>Les Chouans ou la Bretagne en 1799. </i>"A Bretanha em 1799".)</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b> Que diferença entre este e todos os livros precedentes de Balzac! O enredo ainda é o que pode haver de mais romanesco, mas as personagens vivem; aliás, o interesse partilha-se entre a história dos amantes, o quadro da época e a representação do cenário. O autor conseguiu dar bem mais do que uma movimentada história de amor: a epopeia de toda a insurreição, fazendo que nas páginas do livro se sintam as palpitações de uma alma coletiva, bárbara e dominada por instintos primários. Outro encanto do livro eram as descrições das paisagens selvagens e sombrias da Bretanha, quase outra personagem da ação. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b> Com todas as suas desigualdades, essa obra já revela mão de mestre. O romancista encontrou-se definitivamente, e nunca mais reincidiria na subliteratura. Tudo o que escreveria depois dos <i>Chouans, </i>em matéria de romances e de contos, seria obra de valor . </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b> Comparado com Walter Scot, seu discípulo assinala-se por uma particularidade bem francesa, de que, aliás, tinha plena consciência. O romancista escocês idealiza a paixão. Por temperamento ou para agradar a um público maior, desconhece o amor sexual e faz intervir, em suas narrativas, mulheres sublimes e pálidas, quase figuras de altar. O romancista francês, desde seu primeiro verdadeiro romance, explora todas as riquezas da mina das paixões. "A paixão é toda a humanidade!" - escreverá anos depois no <i>Prefácio da Comédia Humana, </i>ao reconhecer a sua dívida para com Walter Scot. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b> Por outro lado, em oposição a Scot - atraído pela épocas mais remotas da história nacional - Balzac logo de início escolhe um passado muito próximo, contíguo ao seu próprio tempo. No conjunto de sua obra, o romance histórico constituiria uma exceção, pois o romancista se compenetra cada vez mais de que a sua tarefa consiste em escrever a "história dos costumes" da sociedade francesa de seu tempo. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b> A repercussão de <i>"Le Dernier Chouan" </i>não é nada extraordinária, mas já recomenda o autor à atenção de alguns entendidos em literatura. No mesmo ano, porém, alcança um sucesso retumbante, pois é um sucesso de escândalo, com sua espirituosa mas escabrosa "<i>Fisiologia do Casamento". </i>Este livro, que saiu poucos meses depois da morte do pai de Balzac, a quem o autor provavelmente deve a ideia central, e que teria ficado bem contente com o alvoroço, conquistou de chofre um público enorme. As mulheres censuravam-no, os homens defendiam-no, era objeto de discussão em todos os salões, e todos o compravam. \o anonimato foi facilmente desvendado; a fortuna literária do autor, estava feita, sobretudo depois da publicação em 1830, das <i>"Cenas da Vida Privada", </i>deliciosos quadros de interior, que o reconciliavam com todo o público feminino." </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>P.R.</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>.</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>Esta é mais uma parte sobre a vida de Balzac. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>LEIA TAMBÉM > <a href="http://ascartasdebalzac.blogspot.com.br/">AS CARTAS DE BALZAC </a></b></div>
<br />Nicéas Romeo Zanchetthttp://www.blogger.com/profile/02379067383684275947noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7631564666172648637.post-68669142010975889492014-07-20T12:51:00.001-07:002014-07-21T03:20:57.792-07:00BALZAC - EDITOR E IMPRESSOR <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcY-yO4vE4lBE-WfTSIalv35A8s9ofIQ7WKQ95HBnGPDGJmhIts-k9HXEudsSnlfQ6iibU0Cw0gB5zI7NVQvOkkejXF2Cni6i5EZTKxjAT19UDB_XspZUNaLjzHxzBV4v4LmheuW-9mC8/s1600/njm.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcY-yO4vE4lBE-WfTSIalv35A8s9ofIQ7WKQ95HBnGPDGJmhIts-k9HXEudsSnlfQ6iibU0Cw0gB5zI7NVQvOkkejXF2Cni6i5EZTKxjAT19UDB_XspZUNaLjzHxzBV4v4LmheuW-9mC8/s1600/njm.jpg" height="320" width="203" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> "Se a literatura de cordel rende o suficiente para salvar Balzac do notariado e fazê-lo ganhar a vida, não lhe garante ainda a independência para a realização das grandes obras sonhadas, das quais, passados vinte e seis anos, ainda não escrevera a primeira linha. No contato com os editores que lhe publicavam as produções anônimas, ocorreu a Balzac a ideia de adotar-lhes a profissão. Começaria editando obras alheias, cujo lucro lhe traria o desafogo indispensável para finalmente escrever as suas. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> A ideia concretizou-se no dia em que o livreiro Urbain Canel encomendou a Balzac um prefácio para a edição, num só volume, das obras completas de <i>La Fontaine </i>que estava preparando. Entusiasmado com o plano de reunir num único volume compacto o material de muitos volumes de formato comum, o prefaciador vislumbrou um êxito comercial extraordinário. Nenhum amador de La Fontaine, pensara ele, deixaria de comprar uma edição tão prática, mesmo que já tivesse as obras soltas. Não contente de escrever o prefácio, pediu ao livreiro que o associasse à empresa. Em breve está constituída a sociedade, com participação de Balzac, Canel e terceiros, para a publicação de "<u>Obras completas dos grandes escritores num volume só".</u> O La Fontaine ainda estava no prelo, quando se começou a compor o Molière. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Foram os associados que começaram a duvidar do bom êxito, ou, pelo contrário, foi Balzac que, arrebatado pelo otimismo, queria para si todo o fabuloso da iniciativa? Seja como for, em 1 de março de 1826 a sociedade é dissolvida, ficando Balzac como único proprietário. Desinteressando os ex-sócios, compra-lhes a firma por uns nove mil francos, dinheiro este emprestado por <u style="font-style: italic;">Dilecta.</u> A necessária inversão de capital novo, cinco mil francos, é fornecida por um senhor d'Assonvillez, amigo da família. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> O programa da editora era, na verdade, interessante. Edições análogas realizadas mais tarde (na Inglaterra, das obras completas de Shakespeare; na França, recentemente, de vários clássicos franceses nos volumes compactos da edição da <i>Pléiade, etc.) </i>deram excelente resultado. Infelizmente os contemporâneos de Balzac não gostavam da coleção, talvez por causa dos caracteres fininhos, das gravuras mal executadas ou do preço elevado. As livrarias recusavam os La Fontaine e os Molière, e a edição teve de ser vendida aos trapaceiros ao preço de papel sujo. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Meditando sobre o insucesso, julgou-o Balzac seria devido a motivos puramente técnicos. Os impressores trabalhavam mal e cobravam caro. Se a editora possuísse tipografia própria, o trabalho sairia melhor e mais barato, podendo-se vender os livros a preços bem mais acessíveis. Richardson, autor de <i>Clarisse Harlowe, </i>um verdadeiro <i>best-seller, </i>imprimia por sua conta os próprios livros. Balzac resolve então comprar uma tipografia que justamente nessa ocasião estava a venda; compra-a pela ninharia de trinta mil francos. Como não entende do ofício, associa-se a um tipógrafo, Barbier, a quem indeniza pelo abandono do emprego com doze mil francos. Mais quinze mil são necessários para pagar a licença, obtida graças à intervenção do conselheiro de Berny (o marido enganado!). O senhor d'Assonvillez, ansioso em recuperar o primeiro capital, empresta um segundo a Balzac. O pai deste consente em entregar ao filho o capital de que lhe enviara os juros a Paris durante os anos da aprendizagem literária. A <i>Dilecta </i>empenha outra parte de seus bens. É só pôr as máquinas em movimento. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Ainda dessa vez a ideia era boa. Além dos trabalhos da editora, a tipografia aceitava encomendas vindas de fora - ou, antes, aceitaria, pois elas escasseiam cada vez mais e ao cabo de poucos meses a empresa se torna deficitária nas mãos do novo proprietário. Balzac entra a meditar outra vez e sai com outra observação exata: a impressão custava caro, porque a tipografia pagava caro os caracteres. Era preciso fabricá-los em casa. Daí a comprar uma fundição de caracteres - era um passo. Balzac comprou uma, falida, e ei-lo quase senhor de si. Se conseguisse fabricar o papel (etapa a que necessariamente haveria chegado se a empresa tivesse vivido mais tempo), alcançaria a autonomia completa de sua editora. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> As concepções de Balzac não só eram justas, mas também essencialmente modernas. Compreendeu perfeitamente a interdependência das indústrias do papel e do livo e foi um dos primeiros a considerar a editora como simples intermediária entre a tipografia e o público, mas sim como coordenadora de múltiplas atividades industriais, isto é, o tipo da grande empresa capitalista. Oque faltava era apenas os capitais. As dívidas ainda não tinham começado a ser pagas, e a casa exigia sem cessar novos investimentos. Barbier assustou-se e abandonou a sociedade. A família Balzac, depois de alguns meses de esforços, recusou-se a supri-lo de dinheiro. Não havia com que pagar os operários, que recorreram ao tribunal. A senhora de Berny, alarmada, entrou a fazer parte da firma; nada porém, podia já impedir a debandada. Em abril de 1828 seria inevitável a falência se não fosse a intervenção dos pais de Balzac, ciosos da honra do nome. Liquida-se tudo,vendem-se a tipografia e a fundição. Para Balzac resta apenas uma dívida de uns setenta e tantos mil francos e uma ótima oportunidade para dar um tiro na cabeça. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Felizmente, desta vez declinou a solução lógica. Estudante falhado, escrivão despedido, dramaturgo vaiado antes da representação, mau romancista escondido sob pseudônimos, comerciante falido, tendo a cercá-lo o desprezo da família e a comiseração dos amigos, escreve à duquesa de Abrantes: "Posso lhe afirmar, minha senhora, que se tenho uma qualidade, é aquela que vê recusarem-me com a maior frequência, aquela que todos os que julgam conhecer-me são unânimes em me negar: energia." </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Durante os anos duros da estréia literária, da editora e da tipografia - que revivera magnificamente em <i>Ilusões Perdidas - </i>as experiências amargas da sensibilidade, as contínuas decepções e a luta recomeçada tantas vezes, o duro contato cotidiano com a impiedosa vida moderna, amadureceram o romancista, que sentia em si um desabrochar de dons maravilhosos e de repente se julgava de posse, ele mesmo nem sabia como, de todos os meios de um artista. Para ele a vida tinha agora dois fins: tornar-se famoso e, para pagar as dívidas, rico. Felizmente a mesma atividade levava a esses dois fins. Bastava escrever uma dúzia de obras primas. Foi o que fez. "</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>P.R. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>.</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>Esta é mais uma parte da vida de Balzac, como empresário</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>LEIA >> <a href="http://ascartasdebalzac.blogspot.com.br/">AS CARTAS DE BALZAC </a></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
Nicéas Romeo Zanchett </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<br /></div>
<br />Nicéas Romeo Zanchetthttp://www.blogger.com/profile/02379067383684275947noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7631564666172648637.post-14995473533337691172014-07-01T10:59:00.002-07:002014-07-20T12:28:00.133-07:00BALZAC - A SUA DILECTA <div style="text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgere5TAvrX0h1ebCcYm91nd3CIA-DSS9Ts5J4AtAS0PRxjRJqfW-s4K6Sn06eoRl1s7Nunh_dFPV-vOgGNCH3tHn58gHD0fmYZ4b8W2BbyamzUi_MvEacpRL7YDHFlWeNQUGXabpldxQ4/s1600/download+(2).jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgere5TAvrX0h1ebCcYm91nd3CIA-DSS9Ts5J4AtAS0PRxjRJqfW-s4K6Sn06eoRl1s7Nunh_dFPV-vOgGNCH3tHn58gHD0fmYZ4b8W2BbyamzUi_MvEacpRL7YDHFlWeNQUGXabpldxQ4/s1600/download+(2).jpg" height="320" width="252" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b>BALZAC - A SUA DILECTA </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Esta pessoa só podia ser uma mulher amorosa. Para adivinhar neste industrial de romances de cordel o futuro autor da <i>Comédia Humana, </i>não bastaria a inteligência mais penetrante; era preciso intuição do amor. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Decorrido o prazo combinado para dar provas do seu gênio, Balzac teve de voltar a Villeparisis. Conquanto se tivessem resignados a não lhe impor mais o notariado, os pais achavam a vida de província mais saudável para ele e, principalmente, mais econômica para eles. Talvez alimentassem, ao mesmo tempo, a ilusão de que, menos exposto às tentações da glória, seu filho acabaria renunciando a literatura. Cedo tiveram, porém, de abandonar tal esperança, pois foi em Villeparisis que Balzac escreveu a maioria dos romances inconfessáveis de seu primeiro período; de lá, levava seus manuscritos à próxima capital. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Depois do casamento da irmã Laure, que fora viver com o marido em Bayeux, o jovem literato sentia-se muito só numa casa onde o compreendiam tão pouco. Estava, aliás, na idade em que se espera impacientemente a grande paixão; demais, além do fogo de um amor, buscava também, sem o saber, o calor menos veemente de outro sentimento que sempre lhe fizera falta: a afeição materna. Uma mulher lhe traria um outro. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> " A celeste criatura de quem a senhora de Mortsauf do <i>Lírio do Vale </i>é apenas uma pálida cópia" era a esposa do senhor Gabriel de Berny, conselheiro da Corte, vizinho de Balzac em Villeparisis. Mulher de uma beleza melancólica e um tanto murcha, tinha em seu passivo vinte e oito anos de casamento, sete filhos vivos (dos nove que tivera) e a idade de quarenta e quatro anos, um pouco maior do que a senhora Balzac e exatamente o duplo da de Honoré. A tristeza patética e a força desesperada do seu maior e último amor decorrem desses algarismos implacáveis. Um matrimônio fecundo mas infeliz, a reclusão num lugarejo morto onde o marido viera restabelecer a saúde abalada, as inquietações permanentes causadas pelas doenças de seus filhos e, por outro lado, seu espírito fino e culto, sua imaginação excitada pelas leituras, suas reminiscencias de uma infância feliz, passada à margem da Corte, tudo a predispunha à aventura, e foi com alvoroço que acolheu a suprema e imprevista oportunidade que se lhe ofereceu na pessoa um pouco vulgar e barulhenta, mas boa, forte, alegre e interessante, do jovem Balzac em quem ela, só ela, descobria, pelo fogo dos olhos, pela vivacidade dos gestos, pela firmeza da fé em si mesmo, por mil pormenores impossíveis de definir, o gênio vindouro. Umas aulas dadas pelo moço ao caçula do casal serviram de prelúdio ao namoro, iniciado por uma série de cartas patéticas que o futuro romancista enche de tiradas inflamadas (às vezes simplesmente copiadas de suas leituras) para vencer a resistência não muito forte da "mulher de 40 anos". O amor dos dois devia durar mais de dez anos para depois se transformar em amizade profunda, só se apagando com a morte de Laure em 1836. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Todos os biógrafos do romancista insistem na influência importante exercida pela Dilecta (nome dado por Balzac à sua amiga) sobre o rumo não apenas da vida, mas da obra deste. Animando-o desde o começo de sua carreira, não cessava de aconselhá-lo no apogeu de sua glória, lia-lhe as obras, estimulava-o com elogios, forçava-o com censuras a se emendar; ajudava-o eficazmente, como veremos, em suas dificuldades financeiras. Má esposa e mãe infeliz, soube ser amante perfeita. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Foi ela, sem dúvida, que lhe afinou os gostos rústicos e aprimorou as maneiras pouco elegantes, polindo-lhe as asperezas com o tato de sua experiência. Só ela teria a coragem de observar ao romancista vitorioso que, "seus anjos falavam como raparigas". Balzac a tinha em conta de um árbitro seguro e executava religiosamente as modificações que ela lhe impunha. Em sua última carta, a moribunda podia com razão orgulhar-se de sua contribuição à glória de Balzac, a quem consagra o que tinha de melhor na alma:"Posso morrer; estou certa de que você te na fronte a coroa que eu nela quisera ver. <i>O Lírio do Vale, </i>é uma obra sublime, sem mancha nem falta". O amante não pecou por falta de gratidão. Mesmo quando a velhice extinguiu os encantos da <i>Dilecta, </i>conservava-lhe uma afeição sincera, e, antes e depois da morte dela, costumava lembrá-la a suas outras amantes e amigas sempre com verdadeira veneração. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Durante muito tempo, pairou dúvida sobre a identidade da <i>Dilecta. </i>Fopram George Vicaire e Gabriel Hanotaux que, ao examinar os papéis da falência de caracteres Laurent, <u style="font-style: italic;">Balzac & Barbier,</u> de que mais adiante falaremos, descobriam neles o nome da senhora de Berny que ocorreu no momento crítico e fez-se sócia de Balzac para salvar a firma. Outras pesquisas permitiram aos dois estudiosos estabelecer que ela, em solteira Laure-Louise Antoinette, era filha de um harpista alemão da rainha Maria Antonieta e de uma camareira da mesma; seus padrinhos eram nada menos que o rei Luiz XVI e a rainha. Tinha sete anos quando lhe morreu o pai e dez quando sua mãe casou em segundas núpcias com o cavalheiro de Jajayes, monarquista conhecido por haver tentado salvar a rainha no momento da Revolução. Com a mãe, o padrasto e o marido (com quem casara em 1793), Laure foi presa em 1794 e só conseguiu salvar-se graças à queda de Robespierre. Sua mãe conservava até o fim da vida uma madeixa de cabelos e um par de brincos que Maria Antonieta lhe mandara antes de morrer. Testemunha de conspirações e tramas, participante de fugas e perseguições, remanescente de uma corte brilhante, a <i>Dilecta </i>contava a Balzac todas as cenas romanescas da sua mocidade, e o escritor estreante sorvia-lhe as palavras, de que se lembraria ao escrever <i>Um Episódio do Terror </i>e <i>O Avesso da História Contemporânea. </i>Contrariamente ao que se poderia pensar, não foi a <i>Dilecta </i>que inspirou a ideologia política de Balzac; mulher de inteligência superior, clarividente e generosa, ela compreendia que "a Revolução contra as andadeiras dos homens" e, ao ver o seu Honoré enveredar pela atalho do legitimismo, advertiu repetidas vezes contra o perigo de se comprometer com os monarquistas. "Mesmo que vencesse", - escreveu-lhe numa das poucas cartas que dela se conservam - "esta gente, que sempre foi ingrata por princípio, não mudaria por tua causa; tem todos os defeitos do egoísmo... e um desdém que toca as raias do desprezo, por aqueles que saíram de um outro sangue". </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> As tendências monarquistas de Balzac, originadas por seu esnobismo (lembre-se o caso da partícula!) devem ter sido fortalecidas pela atmosfera geral da época, em que era de moda entre os jovens literatos ser favorável à Restauração - da qual precisamente o futuro apóstolo republicano, Victor Hugo, era o poeta oficial - pelo exemplo de certos amigos e, principalmente, de certas amigas. Sim, a vida toda de Balzac parece subordinada a influências femininas. Entre estas, conta-se a da duquesa de Abrantes, sua amante durante algum tempo e cujas <i>Memórias </i>mais tarde o escritor levaria, por gratidão, a um editor amigo. Pouco mais moça do que a senhora de Berny e muito mais velha do que Honoré, esta famosa intrigante atraía o jovem escritor menos por seus encantos já algo murchos, do que pelo reflexo de seu antigo brilho, o falso luxo de seu salão e seus sonhos áulicos. Às intermináveis palestras em seu boudoir (<u>suite)</u> a sombra de Metternich, seu antigo amante, devia estar presente, segundo uma observação mordaz da senhora Berny. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Duas outras mulheres, mais moças e mais belas, viriam logo depois continuar a obra da duquesa de Abrantes, acendendo cada vez mais na alma de Balzac o desejo de ascensão social. Mas desde 1824. data em que publica dois panfletos, <i>Do Direito de Primogenitura </i>e<i> História Imparcial dos Jesuítas, </i>aparece já como partidário militante da Monarquia da Igreja. Teremos a ocasião de Demonstrar que nem por isso a <i>Comédia Humana, </i>este grandioso fresco da sociedade da Revolução, ficaria manchada de parcialidade, pois o gênio do autor, felizmente, sobrepujou as tendências do seu espírito. Mas o homem nunce se liberta desse deplorável esnobismo que lhe faria buscar as rodas aristocráticas, estragando-lhe a felicidade e, na literatura, desviando-lhe o interesse das largas camadas do povo. Tinha todos os dotes para ser pintor de toda a sociedade de sua época, mas a ambição restringiu-lhe o horizonte às classes superiores, da burguesia para cima, e impediu-o quase totalmente de viver o drama dos mais pobres. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><br /></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<br /></div>
<b>CLIQUE NO LINK ABAIXO </b><br />
<a href="http://ascartasdebanzac.blogspot.com.br/2014/06/biografia-simplificada-de-balzac.html">BIOGRAFIA SIMPLIFICADA DE BALZAC </a><br />
Por Nicéas Romeo Zabchett</div>
Nicéas Romeo Zanchetthttp://www.blogger.com/profile/02379067383684275947noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7631564666172648637.post-38864157105481853202014-07-01T09:20:00.000-07:002014-07-05T16:22:31.215-07:00´BALZAC - OS PRIMEIROS ROMANCES <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiR9dYzMtRVvpz4KCGm6NBcP75ER9TrRhW2FS1bIDmnlqB9tpMa23NPmeBDioCwppgh6H9Q-geytJr-c3684jUBguMCf2UwoJfN9LxGtxCgqtRyVqM4yqSlGmzhHLr90MHEOTIpBGMf-6g/s1600/bbb.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiR9dYzMtRVvpz4KCGm6NBcP75ER9TrRhW2FS1bIDmnlqB9tpMa23NPmeBDioCwppgh6H9Q-geytJr-c3684jUBguMCf2UwoJfN9LxGtxCgqtRyVqM4yqSlGmzhHLr90MHEOTIpBGMf-6g/s1600/bbb.jpg" height="320" width="254" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b>BALZAC - OS PRIMEIROS ROMANCES </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> "Rousseau e Richardson haviam iniciado a moda dos romances sentimentais, devorados por um número sempre crescente de leitores. Este novo público nada tinha a ver com os leitores eruditos de outrora, amigos e colecionadores de belos liros. As moças liam com sede de aventuras, liam em busca de emoções e de evasão, liam para matar o tempo. Uma vez lido um livro, nunca mais o retomariam. Pouco olhavam para a qualidade e não faziam questão e possuir a obra cuja literatura terminaram. As exigências de tal público deram um surto extraordinário à instituição dos gabinetes de leitura onde os livros se emprestavam por um tanto o volume. Os donos, portanto, preferiam obras em muitos volumes: um leitor que tivesse lido o primeiro volume era um freguês certo para todos os outros. Por sua vez, os editores, cujos consumidores eram justamente os gabinetes de leitura, procuravam satisfazê-los. Não somente encomendavam romances longos, como também reduziam o formato, alargavam as margens, esbanjavam o papel, numa palavra - faziam tudo para dividir um só romance no maior número possível de volumes. Os escritores, naturalmente, não deixavam de se adaptar às exigências da moda: estiravam os romances multiplicando os episódios, arrastando os heróis de uma série interminável de aventuras, não se decidindo a matá-los senão depois de várias mortes simuladas e outras tantas ressurreições; por outro lado, ao chegar no fim de um volume, interrompiam a ação no ponto culminante, com o fito de espicaçar a curiosidade do leitor. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Assim as características do novo gênero foram em parte determinados por motivos puramente técnicos e fortuitos. Em sua evolução também interferiram, no entanto, influências literárias, sobretudo inglesas. Na Grã-Bretanha perdurava o sentimentalismo doentio e lúgubre, característico do pré-romantismo, produto dos cantos do pseudo Ossian, das <i>Noites, de Young, </i>e de toda uma poesia sepulcral. Da lírica, a melancolia passou para o romance, mas degenerando em frenética procura de impressões terrificantes. Nos romances sombrios de Lewis, de Maturin, de Anne Radcliffe há um não acabar de subterrâneos, de castelos abandonados, de assassinos, de aparições e fantasmas - bastante parecidos à horrível literatura de quadrinhos das atuais revistas infantis. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Se demorarmos em descrever os traços dessa "literatura", foi porque eles caracterizam perfeitamente os romances escritos por Balzac de 1822 a 1825. Tive a pachorra de ler esses trinta volumes da primeira à última página, e fiquei espantado com o seu nível baixo. Apenas nos últimos desses romances se vislumbra, de vez em quando, uma observação curiosa ou uma frase bem cunhada, mas que de forma alguma anuncia o criador da <i>Comédia Humana.</i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><i> </i>O próprio Balzac não tinha a menor ilusão a respeito dessas publicações, tão puco as levava a sério que, para acabá-las mais depressa, pedia à irmã que escrevesse por ele capítulos inteiros. Em suas cartas a esta não exita em qualificá-las de "porcarias literárias", e certa vez exclama: "Contudo, é preciso escrever, escrever todos os dias para conquistar independência que me recusam. <i> </i>Procurar tornar-se livre por meio de romances, e que romances! Oh, Laura, que tombo de meus sonhos de glória! Mas a melhor prova de que Balzac julgava em seu justo valor <i>A Herança de Birague, Jean-Louis ou a Enjeitada, Clotilde de Lusigan ou o Belo Judeu, O Centenário ou os dois Beringheld, O Vigário das Ardenas, A última Fada ou a Nova Lâmpada Maravilhosa, Annete e o Criminoso, Wann-Chlore, </i>é que não punha o seu nome em nenhum deles, mas publicava-os sob pseudônimos - Lord R'hoone (anagrama de Honoré) , Horace de Saint-Aubin, etc. - ou anonimamente. Em seguida, embora necessidades de dinheiro o tenham forçado a negociar outra vez os direitos dessas obras, não as quis jamais reconhecer publicamente. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Esses livrecos, bastante bem pagos pelos editores, que, acossados pelo público, lançavam qualquer coisa, deram para Balzac viver e permitiram-lhe não adotar outra profissão; não resolveram, porém, o problema da independência tão desejada. Por outro lado, cada mau livro saído de sua pena confirmava o julgamento dos seus a respeito de sua incapacidade. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Tudo isso era de péssimo agouro para uma futura glória literária. Sem dúvida, Balzac continuava a crer firmemente em seu talento, mas encontrava obstáculos terríveis: a pobreza, a desgraça dos amigos e os sarcasmos da família, e, principalmente, a falta de espontaneidade com que se exprimia, a dificuldade em encontrar as palavras exatas, em escrever com elegância. Talvez desistisse se não lhe tivesse chegado, no momento oportuno, o mais precioso dos auxílios. Conseguiu comunicar a outra pessoa sua fé ardente em si mesmo." P.R. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><br /></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b>.</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b>Clique no Link abaixo e leia </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><a href="http://ascartasdebanzac.blogspot.com.br/2014/06/biografia-simplificada-de-balzac.html">BIOGRAFIA SIMPLIFICADA DE BALZAC </a></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b>Por </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b>Nicéas Romeo Zanchett </b></div>
<br />Nicéas Romeo Zanchetthttp://www.blogger.com/profile/02379067383684275947noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7631564666172648637.post-5894510474115419172014-07-01T05:38:00.002-07:002014-07-05T16:18:57.113-07:00BALZAC - UM APRENDIZ DE LITERATURA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzZO3M9XRkUCjMrwBRZFm-0I5GkmoVMFx5d9LKkbFKpe4Rm_-N0VKrqnzQn397MxGYxd5zbsBGqYlRm-logFvjszOagwXMR4yL0CD9OP6AepLzh1sTWQuZiaSFkgY6zSA-3D-6kD7tcs0/s1600/hujikol.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzZO3M9XRkUCjMrwBRZFm-0I5GkmoVMFx5d9LKkbFKpe4Rm_-N0VKrqnzQn397MxGYxd5zbsBGqYlRm-logFvjszOagwXMR4yL0CD9OP6AepLzh1sTWQuZiaSFkgY6zSA-3D-6kD7tcs0/s1600/hujikol.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b>BALZAC - UM APRENDIZ DE LITERATURA </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> "Balzac tem seus vinte anos quando se lhe oferece ocasião magnífica para resolver o problema do seu futuro. Outro amigo do pai, também notário, prontifica-se a aceitá-lo como auxiliar para depois deixá-lo com o cartório, promessa já sedutora em sia, e embelezada ainda pela perspectiva de um bom casamento. Grande foi, pois, o estupor dos Balzac ao ouvir Honoré recusar terminantemente essa combinação e declarar que estava farto de papéis, cartórios e tabeliães, e que queria fazer o seu caminho por si mesmo. Mas da surpresa passaram à indignação quando Honoré enunciou que, em vez de escrevente, pretendia ser escritor. Um moço que não sabia enfiar duas frases! E mesmo que o soubesse, era lá essa uma profissão? Justamente a família se encontrava em más condições pecuniárias. Aposentado o pai, todos tiveram de deixar Paris e ir viver modestamente num lugarejo próximo, Villeparisis. Em vez de ajudar os pais, queria Honoré impor-lhes novas despesas? </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Foi por esses trilhos que a discussão enveredou, mas o rapaz não se rendeu aos argumentos mais sensatos. Finalmente, o senhor Bernard-François cedeu, compreendendo que não podia condenar a profissão de escritor sem renegar a sua <i>História da raiva. </i>Pai e filho concluíram então um acordo em regra. Honoré iria passar dois anos em paris, à custa da família. Dentro desse período devia fornecer provas inequívocas da sua vocação literária. Como a tentativa podia dar em malogro, o literato aprendiz obrigava-se a viver incógnito em Paris, escondendo-se para não comprometer o nome da família. Em casa dir-se-ia às visitas que ele fora para o campo, estava viajando, continuava os estudos... Qualquer mentira servia, desde que nada transpirasse do projeto monstruoso. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Havia ainda o perigo das seduções de Paris, porém fácil de conjurar. Bastava restringir a mesada ao mínimo necessário e confinar o jovem num quarto miserável, pequeno, com a mobília mais sumária possível, aos cuidados de uma velha criada. Sentia-se o homem mais feliz do mundo ao tomar posse, em abril de 1819, de sua mansarda, na rua Lesdiguières, perto das nuvens e da biblioteca do Arsenal. Transbordante de entusiasmo, num trecho das cartas alegres e espirituosas que manda à irmã, a quem pede ora o Tácito da biblioteca paterna, ora mais um cobertor (fazia um frio na mansarda!), ouvimo-lo exclamar: "Pegou fogo, na rua Lesdiguières número 9, na cabeça de um pobre rapaz, e os bombeiros não conseguiram apagá-lo. Foi ateado por uma bela mulher que ele não conhece; dizem que mora nas Quatro-Estações, no fim da Ponte-das-Artes; chama-se Glória". </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Começa o trabalho, isto é, põe-se a ler, a meditar, a passear, a observar e ver. A matéria principal do seu estudo é Paris. Depois de ter escolhido para lugar de suas meditações o Jardim das plantas, abandona-o por "tê-lo achado triste demais" e transfere-se para o Père Lachaise, o grande cemitério de Paris, terreno admirável para fazerem "estudos de dor". E, cheio de confiança, constrói projetos, um após outro, e nem mesmo o presságio dos sofrimentos morais ligados à sua profissão chega a desanimá-lo: "Quer tenha gênio quer não, estou preparando muitas mágoas para um e outro caso". </b></div>
<b>A série destas mágoas ia ter começo. Ao cabo de um ano passado em Paris, volta Balzac a Velleparisis para ler à família e aos amigos a sua primeira obra, a tragédia <i>Cromwell, </i>que em sua opinião, deverá marcar época. (Por uma coincidência deveras curiosa, dois outros estreantes, sem nada saber um do outro nem de Balzac, trabalhavam mais ou menos na mesma época em drama acerca de <i>Cromwell. </i>Um deles era Mérimée, cujo drama se perdeu; outro, Hugo, cuja peça, impossível de representar, se tornou famosa pelo prefácio com que saiu publicada em 1827, verdadeira declaração de guerra à arte clássica, profissão de f´do movimento romântico. (O assunto, romântico <i>avant la lettre, </i>pairava no ar à espera de escritores.) Por infelicidade de Balzac, a família toda concorda em qualificar o seu drama de péssimo. O escritor recusa o tribunal e pede a sentença de um árbitro; este, escolhido de comum acordo, um senhor Andrieux, professor de literatura na escola Politécnica, lê a peça por sua vez. As palavras que se lhe atribuem - "O autor deve fazer qualquer coisa, exceto literatura" - parecem inventadas pelo anedotismo que se compraz em contrastes imprevistos e motes picantes; seu sentido, porém, não devia ser muito diferente. </b><br />
<b> Caberia aqui uma bela digressão sobre a incompreensão das das famílias e dos contemporâneos em geral diante do gênio. Mas o fato é que o drama de Balzac era realmente péssimo. Nisto os árbitros não se enganavam absolutamente. Foi culpa deles não suporem que um rapaz que aos vinte anos escrevia dramas péssimos faria romances esplêndidos aos trinta? Tudo isso significa apenas que conhecemos mal as leis da gênese de um gênio - se é que existem. </b><br />
<b> O autor nada podia opor-lhes senão a sua certeza interior. Se os outros o julgavam falhado na literatura, ele sabia restringir esta condenação a um só gênero. Se não lograra êxito no drama, era porque a sua vocação consistia no romance. Voltou à mansarda da rua Lesdiguières para fazer romances. Não tardou muito em compreender, porém, que dentro do prazo combinado não podia tornar-se um verdadeiro escritor. Para sê-lo, era preciso aprender muito mais, ordenar as suas ideias, formar um estilo, ver e viver. Continuava a sentir com segurança absoluta que havia nele um mundo que chamava por ser revelado. Mas já sabia que sem o necessário amadurecimento não poderia revelá-lo, e que esse processo não se deixaria apressar. "Vejo agora" - confessa à irmã - "que Cromwell não tinha sequer o mérito de ser um embrião". </b><br />
<b> Decorridos os dois anos, não poderia mais contar com a família. A independência necessária ao preparo de sua carreira de escritor, tinha de adquiri-la ele mesmo. E como não sentisse capacidade para nenhuma outra profissão, só podia fazê-lo escrevendo. Daí esta resolução paradoxal; para poder um dia compor livros bons, resignava-se por enquanto a fabricar livros maus, frívolos, vazios, feitos em cima da perna, de lucro imediato. O que há de mais estranho é que esta ideia absurda foi realizada exatamente como concebera Balzac." P.R. </b><br />
<div style="text-align: center;">
<b>.</b></div>
<div style="text-align: center;">
<b>CLIQUE NO LINK ABAIXO E LEIA </b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><a href="http://ascartasdebanzac.blogspot.com.br/2014/06/biografia-simplificada-de-balzac.html">BIOGRAFIA SIMPLIFICADA DE BALZAC </a></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Por Nicéas Romeo Zanchett </b></div>
Nicéas Romeo Zanchetthttp://www.blogger.com/profile/02379067383684275947noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7631564666172648637.post-54008433843315429242014-07-01T05:09:00.001-07:002014-07-01T05:17:33.627-07:00BALZAC - UM JOVEM PROVINCIANO EM PARIS <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIbpoPpz59Qo5yG4K1Dt-cupIEFVt__ubSHnfs_pqyhuJcxn46wOud-MSPN9LkfYP-Z0EaV-B18Ujm6jiE7pMR2o-sr_8PzvSZ_6ebKVbolmi7nYgvsQEU7pJsmXdQV8xYQGQRi5qcC58/s1600/ghtyu.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIbpoPpz59Qo5yG4K1Dt-cupIEFVt__ubSHnfs_pqyhuJcxn46wOud-MSPN9LkfYP-Z0EaV-B18Ujm6jiE7pMR2o-sr_8PzvSZ_6ebKVbolmi7nYgvsQEU7pJsmXdQV8xYQGQRi5qcC58/s1600/ghtyu.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>BALZAC - UM JOVEM PROVINCIANO EM PARIS </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> " Em 1814, o senhor Bernard-François de Balzac foi nomeado, como já dissemos, diretor do serviço de víveres, o que determinou a mudança de toda a família para a capital. Ali, em duas escolas modestas, Honoré concluiu o curso interrompido, sempre medíocre, sempre sem nenhum brilho. </b><br />
<b> Ao julgar das pessoas com que convive, não se operou ainda nele nenhuma modificação radical. É uma criança. Mas no íntimo de seu ser, talvez sem que ele mesmo o compreenda, está-se operando uma revolução. Paris, está espantosa aglomeração de casas, homens, recordações e inteligências, apodera-se dele, penetrando-lhe na alma com o encanto sutil de sua atmosfera, satura-lhe o espírito com o fecundo veneno que se destila nas aulas da Sorbone, nos cursos do Museu de História Natural, nas lojas dos alfarrabistas, nas palestras do Bairro Latino, Balzac revisa as bibliotecas, corre as ruas à procura dos rastos dos grandes homens que por ali transitaram, delicia-se em acompanhar de longe um desconhecido, em deitar um olhar pelas janelas abertas, em ler o enigma de algumas das mil fisionomias que ocorrem num minuto nos bulevares, em apanhar por um instante algum dos mil destinos que diariamente cruzam o seu, em devorar livros e jornais, em escutar boquiaberto pessoas que ainda viram os grandes homens do século precedente, como essa velha senhorita R..., amiga da mãe que conhecera Beaumarchais de perto e dele recorda tantos fatos admiráveis. </b><br />
<b> Poder-se-iam passar dez anos, uma vida inteira nessa divertida existência de <i>badaud. </i>Mas cada um tem de se arrumar na vida. Por felicidade de Honoré, amigos não faltam a seu pai. Entre esses, dois tabeliães se oferecem para facilitar a estréia do rapaz dando-lhe um lugar em seu cartório, o que significa o acessoa uma profissão honesta e lucrativa. Os pais resolvem, pois, que seu filho será notário. Dezoito meses no cartório do senhor Merville, outros tantos no do senhor Passes são o bastante para um moço criar afeição ao ofício - ou se enjoar dele para o resto da vida. Foi este o caso de Balzac. Sua atuação nos dois escritórios amigos fortaleceu na família a convicção de que ele era um incapaz; ele mesmo, porém, ficou convencido definitivamente de que seu lugar era a literatura. </b><br />
<b> Nada se perde na vida de um gênio. Sem os anos cinzentos do colégio, não haveria <i>Luiz Lambert. </i>Sem os sofrimentos, mais tarde, de um amor infeliz, não haveria <i>A Duquesa de Langeais. </i>Sem os três anos passados nos cartórios, não haveria <i>Uma estréia na Vida, César Birotteau, O Contrato de Casamento. </i></b><br />
<b> Balzac aproveitou bem esses três anos, embora não no sentido em que seus pais o esperavam. Nos códigos, registros e cadastros identificou partes complicadíssimas e essenciais do mecanismo da vida moderna, cada vez mais amarrada por fórmulas, formalidades e regulamentos. Penetrou no labirinto do processo, conheceu as manhas dos advogados e a obstinação das partes à procura de escapatórias, de recursos lícitos e ilícitos. Viu, principalmente, o que havia atrás de tudo aquilo: o dinheiro, a mola de tantas ações humanas, em que pouco se falava nos salões e que nunca aparecia nos romances do tempo. </b><br />
<b> Lembremos que hoje em dia, o romance não constitui para nós apenas uma diversão. É um importante instrumento de conhecimento indireto, abre-nos ambientes e perspectivas que nunca teríamos oportunidade de conhecer, fornece uma visão prática e real do mundo. Sentados numa poltrona podemos adquirir sem risco e sem cansaço, e até com divertimento, a experiência humana dos observadores, mais clarividentes, entrar em contato com os indivíduos, as classes e os povos. Este notável engrandecimento do campo visual do nosso espírito, devemo-lo principalmente a Balzac, que foi um dos primeiros a franquear ao público o grande laboratório experimental do romance moderno. </b><br />
<b> Por sua parte, ele ainda não tinha este recurso. A sua experiência foi toda direta, pessoal, Como veremos no decorrer de sua vida, teve de "viver" a sociedade moderna antes de revivê-la, em toda a sua complexidade, no papel." P.R. </b><br />
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> </b></div>
Nicéas Romeo Zanchetthttp://www.blogger.com/profile/02379067383684275947noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7631564666172648637.post-76122727595802664042014-06-30T11:28:00.000-07:002014-06-30T12:26:12.470-07:00BALZAC NO COLÉGIO <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyFwxCS3cFeANUzg6M8NOfs4bT42kl6j3OaB4q1p__uWyOv_xbp4omvkhJgEPMQ6Hz5TjMOni6mMGSRx2vzvJXZzwgQR5si7DYjpnpeqUugocHwvJzBZ7isIspCjEN3Mm-ChHLzjjPV_8/s1600/Balzac-+caneta.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyFwxCS3cFeANUzg6M8NOfs4bT42kl6j3OaB4q1p__uWyOv_xbp4omvkhJgEPMQ6Hz5TjMOni6mMGSRx2vzvJXZzwgQR5si7DYjpnpeqUugocHwvJzBZ7isIspCjEN3Mm-ChHLzjjPV_8/s1600/Balzac-+caneta.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b>.</b></div>
<div style="text-align: center;">
<b>BALZAC NO COLÉGIO </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> "A respeito dos primeiros anos de Honoré não se registram senão amáveis ninharias. Pouco ou nada sabemos no tocante ao externato de Tours, onde começou os estudos e que cedo abandonou para entrar, em 22 de julho de 1807, no então famoso colégio religioso Vendôme, regido pelos oratorianos. Como ainda hoje a maior parte das crianças francesas, Balzac ia estudar como interno. <i>(note-se que isto foi escrito por Paulo Rónai por volta de 1950). </i> O colégio era uma grande oficina, onde não havia férias; o aluno entrava analfabeto e só saia ao cabo de oito, nove ou dez anos, com a sua dose de cultura geral adaptada às necessidades da época, muitas humanidades e poucas ciências. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> Segundo uma curiosa reminiscência do diretor do estabelecimento, durante os dois primeiros anos de estudos nada se podia tirar do pequeno Balzac. Nas aulas não dava outro sinal de vida a não ser uma repugnância visceral a toda espécie de trabalho obrigatório. Não tomava conhecimento das explicações, não decorava as lições, não fazia as composições. Para casos como este o colégio tinha um remédio: a palmatória - mas as mãos de Honoré estavam quase sempre cheias de frieiras e os mestres tiveram de recorrer à panaceia número 2, o cárcere, de que o menino por pouco não se tornou pensionista, chegando a passar lá uma semana inteira sem interrupções. Data também desse período sua primeira invenção, cuja lembrança há de perpetuar-se no colégio : uma pena de três bicos, particularmente apropriada a executar em curto tempo os castigos que lhe impunham. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b>Graças à condescendência de um censor, o insubmisso, que em classe conservava seu ar ausente e taciturno, conseguiu levar consigo para a prisão livros da biblioteca escolar. à medida que os lia, sentia desabrochar a inteligência, mas através de um caos, à custa de esforços dolorosos. Já não se contentava de ler; pôs-se a escrever, imitando condiscípulos das turmas superiores e obtendo em breve o apelido, meio irônico, meio admirativo, de poeta. Dos versos que então compôs, um único sobreviveu, tão ruim que não deixa dúvida acerca da qualidade dos outros. Um <i>Tratado da Vontade, </i>com que se ocupava durante as aulas, lhe foi confiscado por um dos professores, que não lho devolveu mais. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> Por volta da Páscoa de 1813, o diretor mando vir com urgência a senhora Balzac. Em lugar do menino gordo, corado e forte que confiara ao colégio, ela encontrou um adolescente pálido, doentio, com ar de sonâmbulo, atingido por uma espécie de coma; uma indigestão cerebral, devia à leitura excessiva e desordenada. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> Honoré teve de ser retirado sem demora do estabelecimento. Alguns meses ao ar livre e saudável da Touraine restauram-lhe as forças, e ei-lo com uma porção de conhecimentos confusos e as saudades do seu <i>Tratado, </i>cuja perda nunca cessaria de deplorar. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> Não se deve formar suposições exageradas quanto ao valor deste trabalho precoce. Quinze anos ainda decorriam antes que Balzac escrevesse a primeira página que prestasse. Mas o título é significativo, pois indica no menino uma consciência surpreendente do que seria a sua maior força na vida. Com uma vontade de ferro realizaria de fato um milagre sem analogias na história das literaturas; de autor péssimo, abaixo do medíocre, que seria até quase aos trinta anos, de repente se tornaria um escritor grandioso, criador do gênero mais importante da literatura moderna, o romance de costumes. </b><br />
<b> Essa primeira fase de Balzac, em que o processo de transformação se operou tão penosamente em seu espírito, deixou vestígios duradouros, pois está descrita em <i>Louiz Lambert, </i>uma de suas obras-primas e talvez o seu livro mais autobiográfico, em que o escritor se desdobra em duas personagens: o próprio Luiz Lambert, esse gênio infeliz, e o amigo que lhe conta a história. </b><br />
<b> Já no momento de sua saída forçada do colégio, aparece Balzac com a crença inabalável em seu gênio, crença que nunca mais perderá e que, no entanto, pelo menos a essa altura, não tinha nenhum argumento, nenhuma prova em seu apoio. Como a concebeu? Como conseguiu mantê-la ante a indiferença e a troça dos colegas, da família? É uma pergunta a que nenhum de seus biógrafos sabe responder." P. R. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><br /></b></div>
Nicéas Romeo Zanchetthttp://www.blogger.com/profile/02379067383684275947noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7631564666172648637.post-2339424983568640962014-06-30T09:01:00.000-07:002014-06-30T09:01:20.974-07:00BALZAC - A IRMÃ PREFERIDA <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGpc9QU7Xr_E8z6y73LXl-mxG384aKk3ZHR2alC5ERNr26NRgGq1YkBwp6bK_FaMFW4shxgj9Kvlq0H43NRdSgapmY8MsQa71TxWLqf-jGUgr23Xukye-Xc_ji4TPgJExQZpcDr6vtmsg/s1600/Balzac-+caneta.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGpc9QU7Xr_E8z6y73LXl-mxG384aKk3ZHR2alC5ERNr26NRgGq1YkBwp6bK_FaMFW4shxgj9Kvlq0H43NRdSgapmY8MsQa71TxWLqf-jGUgr23Xukye-Xc_ji4TPgJExQZpcDr6vtmsg/s1600/Balzac-+caneta.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b>BALZAC - A IRMÃ PREFERIDA </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> "Dos três irmãos de Balzac, sua irmã Laurence, casada jovem e morta pouco depois de casada, e seu irmão Henry, que a sede de aventura levou cedo às colônias, não lhe inspirava atenção particular. Todo o seu carinho concentrava-se em Laure, a mais moça das irmãs, que lhe retribuiu condignamente. Sempre foi amiga fiel e prestativa do irmão, em cujo talento teve confiança desde muito cedo e ao qual até ajudou, com a sua colaboração nas primeiras tentativas literárias. O casamento de Laure não modificou as relações cordiais dos irmãos, graças à simpatia que seu marido, o engenheiro Surville, soube inspirar a Balzac, que mais de uma vezo consultou a respeito de seus miríficos planos de negócios. Com raras exceções, que Balzac aliás atribuía às intrigas da mãe, o afeto dos irmãos permaneceu firme. No entanto, num momento de ânimo escreveria à noiva, comparando a situação desta à sua própria: "Por mim, eu não tenho ninguém, e o coração de minha irmã é bem pouca coisa, pois ´martelado por minha mãe, que passou a vida a nos opor um ao outro. Não é que minha imã, aos quarenta anos, se lembrou de escrever e de crer que tem talento! Pois minha mãe lhe diz que tenho ciume dela!" Arrefecimento mais longo parece ter sido aquele que sobreveio a Balzac nos seus últimos anos de vida, que ele passou em grande parte na Rússia, junto à condessa Hanska, sob cuja influência se afastou sentimentalmente da família. Laure perdoou esta falta ao irmão, mas não à futura cunhada, a quem, entre amigos, acusava de ter contribuído para a morte de Balzac com a desilusão que lhe causara. Esse ressentimento é confirmado pela bela biografia de Balzac, publicada poucos anos depois da morte deste por Laure Surville, na qual não se lê a menor alusão à condessa Hanska, heroína do grande romance de amor de Honoré durante dezesseis anos e sua mulher nos últimos meses de vida do escritor. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Aos vinte anos de idade, porém, quando Balzac ainda não tinha um sentimento trágico da vida, o agitar-se dessas curiosas figuras à volta dele inspirou-lhe apenas um interesse terno e divertido. Como o revelam as cartas que por essa época escreveu a Laure, o espetáculo da família, a presença de conflitos miúdos e interessantes naquele círculo tão estreito, a originalidade do caráter do pai, da mãe e da avó inspirava-lhe desde cedo o desejo de por aquilo no romance. Esse desejo nunca foi realizado por causa de instintivos escrúpulos de delicadeza; mas deu o primeiro impulso ao talento do romancista e ofereceu-lhe inesgotável mina de observação. Foi nesse ambiente reduzido, em que cada um espreitava as palavras e os menores gestos dos outros, que ele criou o hábito de observar cenas na aparência insignificantes, de buscar, disfarçados em conversações anódinas, germes de conflitos e choques de sentimentos e paixões." P.R. </b></div>
<br />Nicéas Romeo Zanchetthttp://www.blogger.com/profile/02379067383684275947noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7631564666172648637.post-88978710868528602242014-06-30T07:12:00.000-07:002014-06-30T07:12:12.909-07:00BALZAC - MÃE E FILHO <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6Nxrq7mcbmZdk8OYRMiqq5Yh14EbH8g6kAdSaoYfWZxzXMN5U8B4bm7E7ZZFwQYu_0jUybJxW5uO-jC9pECNwSGiIgELnJPmg9aDo8r2TsZL6ViQlV-pmCHGUHMx7I5W2OSfQSmXSNtg/s1600/Balzac.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6Nxrq7mcbmZdk8OYRMiqq5Yh14EbH8g6kAdSaoYfWZxzXMN5U8B4bm7E7ZZFwQYu_0jUybJxW5uO-jC9pECNwSGiIgELnJPmg9aDo8r2TsZL6ViQlV-pmCHGUHMx7I5W2OSfQSmXSNtg/s1600/Balzac.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Escultura de Balzac </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b>BALZAC - MÃE E FILHO </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> "Este sábio, de fato, cometera um erro de consequências graves. Casara-se com uma moça que tinha 32 anos menos do que ele, Laure Sallambier, filha de um diretor dos hospitais de Paris. Esta diferença enorme de idade explica, em parte, a falta de uma verdadeira atmosfera de felicidade dentro da casa paterna, falta com que Balzac ia sofrer tanto. Ambiciosa, nervosa, insatisfeita ao lado de um marido que, do alto de sua serenidade olímpica, pouco se importava com seus rompantes, ela, sem querer, fazia gemer os filhos sob o peso de seu temperamento áspero. A senhora Balzac era uma dessas mães que, embora possuindo no mais alto grau o sentimento de família, são incapazes de expressar ternura. Sempre sujeita a apreensões reais, e imaginárias e a repentinas mudanças de humor, receava para os filhos consequências nefastas da indulgência paterna, e procurava corrigi-la como a natureza "que rodeia as rosas de espinhos e os prazeres de desgostos". Atendia com feroz energia aos interesses materiais dos seus e atribulava-lhes o espírito com a maior boa vontade do mundo. A glória de seu filho Honoré em nada lhe modificou as disposições. Consagrou-lhe a própria existência, mas estragou a dele com incessantes implicâncias. Havia entre os dois um conflito permanente, agravado pelo fato de haver o filho, pelas dívidas que contraíra logo no começo de sua carreira e de que nunca se conseguiu livrar, reduzindo a mãe e toda a família a um verdadeiro estado de pobreza. Aliás Balzac, a despeito dos lucros imensos que lhe traziam seus livros, não conseguiu desvencilhar-se das obrigações pecuniárias para com a própria mãe, que ficou sua credora. Como tantas vezes acontece, esta, por seu lado, não levava a sério o filho famoso. Balzac, já com cinquenta anos e um renome universal, queixava-se de que a mãe o admoestava como a uma criança. Vez por outra, o conflito entre essas duas criaturas, que, no fundo, se queriam muito, atingia uma intensidade trágica, como o revelam certos trechos da correspondência de Balzac com a condessa Hanska, sua futura mulher. "Ela é a um tempo um monstro e uma monstruosidade! Neste momento, etá <i>matando minha irmã, </i>depois de ter matado a minha pobre Laurence e minha avó" - exclama o escritor numa página de terrível amargura, em que afirma não ter rompido definitivamente com a mãe unicamente porque lhe deve dinheiro; e acrescenta: "Acreditávamos que estivesse louca, e fomos consultar o médico, que é seu amigo desde há trinta e três anos. Ele nos respondeu: "Infelizmente ela não é louca; é má!... Ela não nos perdoa os seus defeitos". </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Se houvesse lido essas frases terríveis, a mãe teria sem dúvida acusado o filho de ingratidão, e não sem motivo. Quem procura colocar-se na situação da senhora Balzac há de reconhecer que ela pagou bastante caro a glória de ter dado à luz o maior romancista da França. Como podia conformar-se com a conduta daquele filho turbulento e incompreensível, criança eterna que não criava juízo, ganhava fortunas e não pagava as dívidas mais prementes, vivia no luxo sem ter um tostão, matava-se com o trabalho e café, empreendia as especulações mais loucas, mudava-se constantemente, abandonava em os trabalhos mais urgentes e corria atrás da aventura na Suíça, na Itália, na Rússia, deixando passar meses sem escrever à mãe? Não, os instintos conservadores da senhora Balzac, encarnação do espírito de família, não podiam decididamente aquiescer à "maluquice" de Honoré. Por outro lado, o instinto materno nunca lhe permitiu abandoná-lo, agisse ele como quisesse, e ficou ao lado dele até o fim, assistindo-o fielmente em sua agonia, pois o destino a fez sobreviver ao filho. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Balzac não desconhecia, aliás, a dedicação da mãe, e disto deu inúmeros testemunhos em suas cartas a ela, cheias de sinceros protestos de amor filial. Agradecia-lhe mais de uma vez os seus incessantes cuidados e afirmava que o fim principal de seus trabalhos era assegurar-lhe uma velhice tranquila e feliz. Apenas este sentimento não suportava a proximidade; bastava que os dois morassem sob o mesmo teto para recomeçar a briga. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Na media em que é possível determinar a transmissão das qualidades dos pais aos filhos, pode-se dizer que Balzac herdou da mãe a imaginação quase doentia, o temperamento impressionável, sujeito a crises de abatimento e a acessos de otimismo. Também foi ela que lhe transmitiu seu pendor para o misticismo, ao qual provavelmente a levaria a procura de um refúgio em meio às atribulações de uma existência falhada, e foi entre os livros dela que Honoré encontrou pela primeira vez as obras de Swedenborg, que o deviam impressionar tão fortemente. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Havia também, na casa do senhor Bernard-François, a sogra, mãe de Laure Sallambier. Aliada natural da filha, tentava cansar a paciente resignação do genro, cujas reações, no entanto, se limitavam a uma ou outra observação maliciosa, cochichada ao ouvido dos filhos. "Vossa avó - dizia-lhe num piscar de olhos - é uma comediante hábil que conhece o valor de um passo, de um olhar, da maneira de cair numa poltrona." Mas pelo menos ela não partilhava a severidade da filha contra os netinhos, a quem teria viciado com suas carícias se não fora a constante vigilância materna." P.R.</b></div>
<br />Nicéas Romeo Zanchetthttp://www.blogger.com/profile/02379067383684275947noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7631564666172648637.post-8646036858161331522014-06-30T04:43:00.002-07:002014-06-30T05:47:47.021-07:00BALZAC E A HERANÇA PATERNA <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhy9nbs5LwWQjX0czbx7qrUTiAcsfpvdoGebRTGacP6Jl00w4iXEmTlLntwSmk3l4LD9I12v2wMKASA-8wugEnlBRf9ZBrPkRGhHshtJLxgHARitnaHEZjMMs4uf2TfVyVzLN2I6OhUSSPp/s1600/el-poder-de-la-pluma-1600x1200-500x375.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhy9nbs5LwWQjX0czbx7qrUTiAcsfpvdoGebRTGacP6Jl00w4iXEmTlLntwSmk3l4LD9I12v2wMKASA-8wugEnlBRf9ZBrPkRGhHshtJLxgHARitnaHEZjMMs4uf2TfVyVzLN2I6OhUSSPp/s1600/el-poder-de-la-pluma-1600x1200-500x375.jpg" height="320" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b>BALZAC E A HERANÇA PATERNA </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Balzac nasceu no dia 16 de maio de 1799, dia de São Honorato, cujo nome lhe foi dado em Tours, capital de Touraine, "o jardim da França", uma das regiões mais belas da Europa. Críticos literários tiram às vezes desta circunstância conclusões apressadas procurando explicar, pelo lugar de seu nascimento, características artísticas da fisionomia do escritor. Pátria de Rebelais, o criador de <i>Gargântua, </i>a Touraine distingue-se - na própria definição de Balzac - por um espírito "conservador, manhoso, trocista e epigramático... e, ao mesmo tempo, ardente, artístico, poético e voluptuoso". Mas o fato é que foi por mero acaso que Honoré veio a nascer em Tours, para onde seu pai, Bernard-François, languedociano de origem, fora transferido pouco antes de ele nascer, conduzindo consigo a esposa, a parisiense Laure Sallambier, com quem se tinha casado em 1797; e, como mais adiante revemos, o filho passaria em Tours apenas os anos da infância. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Ao examinar os papeis administrativos relativos ao nascimento de Honoré, pesquisadores impertinentes depararam com a falta, entre os nomes "Honoré" e "Balzac", da partícula nobiliária "de", que o escritor sempre ostentava com vanglória tanto maior quanto menos direito lhe cabia de usá-la. Por outro lado, da certidão de idade do pai se vê que este é filho de um modesto lavrador do sul da França, cujo nome se grafava <i>Balssa </i>e não Balzac. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> O nome de Balzac, além de mais aristocrático, tinha também um sabor literário, pois fora ilustrado, desde o século XVII, por Jean-Louis Guez de Balzac, um dos primeiros membros da Academia Francesa, apelidado por seus contemporâneos de "o Grande Epistológrafo". </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Estas pequenas mistificações devem por-nos de sobreaviso quanto às brilhantes funções que o romancista, mais tarde, atribuiria ao seu progenitor. Parece estabelecido hoje que o senhor Bernard-François Balzac não exerceu o cargo de "secretário do Grande Conselho sob Luiz XV, nem o de "advogado do Conselho sob Luiz XVI", mas apenas e o de secretário particular de um banqueiro durante o Antigo Regime, e o de funcionário do serviço de vitrines durante a Revolução. Depois de sua permanência de quase vinte anos em Tours, chegou a ser adido do <i>maire </i>e um dos administradores do hospital local; enfim, nomeado funcionário da direção do mesmo serviço de víveres em Paris, em que foi aposentado. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Nem por isso o pai de Balzac deixa de ser uma personagem curiosa. Tipo do esquisitão, professava princípios <i>à la Rousseau, </i>e tinha um número regular de manias, todas reduzíveis a uma só, a principal entre todas: a da longevidade. Queria prolongar a vida humana em geral e a sua em particular por todos os meios, e para isto preconizava a volta à natureza, o exercício físico, a abstinência alimentar e genésica; estudava com entusiasmo os costumes dos chineses, povo tido como de vida mais longa que os outros; fazia a propaganda mais fervorosa de certa tontina Lafargue, chamada a preservar a velhice dele e de seus concidadãos das preocupações materiais. Com ares de reformador, espalhava idéias bizarras sobre a eugenia, o aperfeiçoamento da raça humana, e publicou certo número de folhetos acerca dos assuntos mais variados, mas todos reveladores de preocupações universais e humanitárias. Eis alguns títulos (abreviados) desses opúsculos curiosos: <i>História da raiva e o meio de preservar os homens desta desgraça como também de algumas outras que lhes ameaçam a existência; Memorial sobre as desordens escandalosas das jovens enganadas e entregues a uma horrível miséria; Memorial sobre os meios de se premunir contra os roubos e os assassinos, etc. </i>Contudo isso, um fidalgo, homem indulgente e espirituoso, e que sabia manter, no meio das tempestades domésticas, a atitude risonha e serena de um verdadeiro sábio. Tinha 53 anos quando Honoré nasceu, e, não fosse um acidente que o matou na idade de 83 anos, haveria enterrado, centenário, todos os seus consócios da tontina.</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Na constituição espiritual de Honoré, a herança paterna revela-se na força extraordinária da memória, na excepcional extensão da curiosidade intelectual, na predileção por ideias gerais e reformas, e em certa excentricidade nos princípios e nos hábitos. Em particular, as estranhas máximas da <i>Fisiologia do Casamento </i>demonstrariam a forte influência dos aforismos e dos paradoxos em que o senhor Bernard-François resumia ironicamente suas próprias experiências matrimoniais. P.R. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><i> </i></b></div>
GOTAS DE CULTURAhttp://www.blogger.com/profile/05297345491578235021noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7631564666172648637.post-39352247473415673302014-06-29T12:41:00.001-07:002014-06-29T12:41:24.880-07:00BALZAC - UMA ÉPOCA PARA ROMANCES <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjp470Ta5t_SVavyY7c3YTMXOdO4VdY2x-cPANXwtckqvh9jMTZRRkXvn7u2iVRdoTpmvcdO2PIWWVNxDuI0XWW_hyphenhyphenTM371t_UC0UTKkjftz9wO4dD7P84TYqWoi1iMUgiGgPFGP-R8E38/s1600/bg_12344549.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjp470Ta5t_SVavyY7c3YTMXOdO4VdY2x-cPANXwtckqvh9jMTZRRkXvn7u2iVRdoTpmvcdO2PIWWVNxDuI0XWW_hyphenhyphenTM371t_UC0UTKkjftz9wO4dD7P84TYqWoi1iMUgiGgPFGP-R8E38/s1600/bg_12344549.jpg" height="212" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b>BALZAC - UMA ÉPOCA PARA ROMANCES </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Independentemente da vontade do autor, cada obra literária reflete o momento histórico em que foi criada. Além desta relação involuntária com a sua época, a obra de Balzac está fortissimamente ligada a esta por ter-se proposto o romancista, primeiro entre todos, reproduzir a vida contemporânea com toda a sua riqueza de costumes e de tipos. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> A existência de Balzac coincide exatamente com o meio século que medra entre dois golpes de Estado: o de 1799, pelo qual Napoleão I liquidou a Revolução Francesa, e o de 1851, pelo qual Napoleão III extinguiu a Segunda República. Balzac ainda pode conhecer testemunhas não somente da Revolução, como também do Antigo Regime, e quando morreu, em 1850, já se previa a próxima ressurreição de um poder forte sob a forma do Segundo Império. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Criança, Balzac assistiu aos capítulos mais brilhantes da epopeia napoleônica; ouviu com entusiasmo os anúncios incessantes de novas vitórias, com consternação as notícias das primeiras derrotas. Testemunhou o exílio de Napoleão à ilha de Elba, a sua volta fulminante, o relâmpago efêmero do seu Segundo Reinado, seu desaparecimento na longínqua Santa Helena - e viveu bastante para assistir à sua grande vitória póstuma, a volta de suas cinzas em 1840, um espetáculo "maior do que os triunfos romanos". (Durante toda a sua vida, Balzac sonharia evocar, em vários romances, a epopeia napoleônica, sem ter tempo, porém, para escrever estas obras que deviam fazer parte das <i>Cenas da Vida Militar. </i>No entanto, a figura de napoleão, a quem o escritor tinha uma admiração extraordinária, projeta a sua sombra sobre muitos episódios da <i>Comédia Humana </i>e revive numa página famosa do <i>Médico Rural, </i>a História do Imperador, contada numa granja por um veterano".) Acompanhou as duas Restaurações borbônicas antes e depois dos Cem Dias, viu surgir e desaparecer o regime conservador de Luiz XVIII e o sistema francamente reacionário de Carlos X, este último varrido pela Revolução de Julho; presenciou todo o reinado liberal-burguês de Luiz Felipe, a Revolução de 1848 e a eleição do futuro Napoleão III para Presidente da república. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Quantas reviravoltas dentro de uma existência de apenas cinquenta e um anos! O mundo antigo resolvia-se dificilmente a morrer... ou as convulsões já eram as do parto laborioso de um mundo novo. Apesar das teorias conservadores que professava e que examinaremos mais adiante, Balzac não se iludia quanto ao sentido verdadeiro dos acontecimento. A "liquidação" da Revolução operava-se apenas no domínio político, mas seus germes frutificaram em todos os setores da sociedade, onde outra transformação, menos veemente, mas não menos eficaz, fazia incessantes progressos - transformação esta da qual Balzac, quisesse ou não, era um dos operários mais fervorosos. Também acompanhava com o interesse mais apaixonado as fases desta revolução latente. Por trás dos debates das Câmaras das arruaças da capital, das polêmicas dos jornais, acontecimentos mais decisivos, embora menos espalhafatosos, verificavam-se nos bastidores da sociedade. Muitas instituições antigas foram restauradas, mas os costumes de outrora ruíram definitivamente. Piores do que as escaramuças reiniciadas periodicamente nas barricadas pelo povo parisiense, acendiam-se conflitos de interesse na Bolsa, nas casa de comércio, no seio das próprias famílias. Os progressos da técnica traziam uma série de inovações, antes de tudo as estradas de ferro, que, para olhos sagazes, anunciavam imensas modificações da vida coletiva e particular. Surgiam novos poderes; o capital, a imprensa, a publicidade. Patenteava-se a ascensão prodigiosa do dinheiro, que reivindicaria um papel cada vez maior em todos os domínios. Estavam, pois, aparecendo e desenvolvendo-se as forças que passariam a moldar todo o período da história européia até a primeira guerra mundial. Esboçavam-se, desde então, os tipos humanos que as novas possibilidades não deixariam de produzir. A <i>Comédia Humana </i>de Balzac contém uma imagem fiel e pormenorizada de toda essa fermentação, de seus resultados visíveis e de suas consequências conjeturáveis; embora concluída em 1850, é um espelho de todo o século XIX." </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>P.R. </b></div>
<br />livrosdoromeo.blogspot.com http://www.blogger.com/profile/17597755348271466103noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7631564666172648637.post-47986020256511732232014-06-29T11:27:00.003-07:002014-06-29T11:27:58.119-07:00BALZAC - BIOGRAFIA E MISTÉRIO <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSSBOIEH5405bJQlpR8S0U87HveB_eM4qTbCDRZ5ArkGsTfYFxFv-nQbaJF6FY8m1E9nAJ5UkhEIXiMqyVqrqRGj4iK29fCHsteC5FkvH2MIfreeCMidqGbbbOoGzmt2thJpGXjg59ZP4/s1600/g%C3%AAnio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSSBOIEH5405bJQlpR8S0U87HveB_eM4qTbCDRZ5ArkGsTfYFxFv-nQbaJF6FY8m1E9nAJ5UkhEIXiMqyVqrqRGj4iK29fCHsteC5FkvH2MIfreeCMidqGbbbOoGzmt2thJpGXjg59ZP4/s1600/g%C3%AAnio.jpg" height="191" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b>BALZAC - BIOGRAFIA E MISTÉRIO</b><b> </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> "O conhecimento dos fatos materiais da vida de um artista facilitará realmente a compreensão de sua obra? Sem dúvida. A biografia esclarece diversos aspectos da criação artística, revela as fontes das ideias do artista, indica-lhe as inspirações, segue a cristalização de sua personalidade intelectual, assinala os impulsos que recebeu de sua época e os que esta comunicou. Mais ainda; graças ao paciente trabalho de reconstrução empreendido pelo biógrafo, a imagem do biografado, deformada pelo tempo e pela glória, reassume feições humanas. Sua personagem lendária e irreal ganha um cunho de familiaridade. Seus atos e suas atitudes encontram uma apreciação serena, justa e definitiva. O herói acaba por aparecer aos olhos dos leitores como ser parecido com eles. Em redor da obra, no entanto, a névoa não se dissipa em medida igual. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Quando mais pormenores se conhecem da existência de um homem genial, tanto mais enigmática se torna a essência de sua personalidade artística. Poder-se-ão penetrar os seus segredos, mas não o seu mistério. O caso de Balzac confirma este aparente paradoxo. Inúmeras pesquisas de minúcias, a publicação sucessiva de uma infinidade de testemunhos e de documentos íntimos entregaram-nos a toda a sua vida particular. Conhecemo-lo hoje, pode-se afirmar com segurança, bem melhor do que os contemporâneos o conheciam, mas nem por isso compreendemos ainda o misterioso desabrochar, naquele indivíduo nascido em 16 de maio de 1799 e morto a 18 de agosto de 1850, da anomalia psicológica que é o gênio. </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b> Hoje vemos Balzac à luz dos refletores da pesquisa como nas cenas sucessivas de um filme contínuo. Criança de sentimentos recalcados, com uma viva e insatisfeita sede de amor, entre pais estrambóticos. Adolescente desambientado num meio escolar de onde toda manifestação de fantasia está excluída. Jovem derrotado logo nos primeiros encontros com o destino, marcado pelo resto da vida com o estigma da incapacidade. Homem já feito, arrastando complexos de inferioridade e procurando compensar a consciência da inata vulgaridade por um esforço desesperado para atingir os cumes brilhantes da vida, a beleza, a nobreza, a fortuna. Velho antes do tempo, esgotado por milhares de noites de trabalho feroz, abatendo-se no limiar da felicidade almejada. Vemos-lhe os olhos em brasa, as faces rechonchudas, o papo do pescoço, os membros sem graça, a gesticulação exuberante, as vestes berrantes. Ouvimos-lhe a voz retumbante e a palavra fácil, a gargalhada grossa e a respiração ofegante. Apalpamos-lhe a mão poderosa, os ombros largos, e até a barriga, produto da vida sedentária. Diagnosticamos as suas tonturas, apanhamos com o estetoscópio os ruídos de seus pulmões, o bater de seu coração hipertrofiado. Acompanhamo-lo em suas numerosas viagens, surripiamos sua correspondência, espionamos-lhe os namoros e amores. Acabamos por ter a impressão de haver nele um velho conhecido, quase que um membro da família - e ao mesmo tempo compreendemos cada vez menos o seu talento, essa monstruosidade que o diferencia dos outros homens. A adição de todos esses elementos, e de outros mais, já descobertos ou por descobrir, não dá uma soma igual a gênio. Não por ter sido tudo isso, mas apesar de tê-lo sido, foi que Balzac criou a <i>Comédia Human, </i>a maior fusão já conseguida da literatura com a vida real. O conhecimento da existência do autor não desvenda o misterioso porque desta realização; serve apenas para aumentar o assombro do espectador, para incutir-lhe um terror quase religioso perante o irracional. " Paulo Rónai. </b></div>
<br />livrosdoromeo.blogspot.com http://www.blogger.com/profile/17597755348271466103noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7631564666172648637.post-43047971995622668302014-06-29T10:26:00.001-07:002014-06-29T10:49:24.620-07:00BIOGRAFIA DE BALZAC <div style="text-align: center;">
<b>BIOGRAFIA DE BALZAC </b></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Para facilitar a leitura e entendimento, será publicada em vários capítulos.</b></div>
<div style="text-align: center;">
<b>.</b></div>
<div style="text-align: center;">
<b>SOBRE A OBRA DE BALZAC NO BRASIL </b></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Antes de conhecer a biografia de Balzac, saiba um pouco sobre Paulo Rónai, o incentivador e grande propulsor para a realização da tradução e publicação da obra no Brasil. </b></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i>Paulo Rónai nasceu em Budapeste em 13 de abril de 1907 e morreu no Brasil em Nova Friburgo no dia 1 de dezembro de 1992. </i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i>Foi tradutor, critico, revisor e professor de francês e latim no Colégio Pedro II do Rio de janeiro. </i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i>Foi ele quem coordenou o projeto "A Comédia Humana" de Honoré de Balzac para a editora Globo de Porto Alegre. </i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Aqui trago aos leitores um pouco desse magnífico trabalho sobre a Comédia Humana, considerada obra prima da literatura universal. Meu objetivo é disponibilizar esta maravilha literária também na internet, dando assim uma oportunidade a leitores virtuais é àqueles que, por alguma razão, não tiveram a oportunidade de ler.</b></div>
<div style="text-align: center;">
.</div>
<div style="text-align: center;">
<b>ADVERTÊNCIA AO LEITOR</b></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Por Paulo Rónai</b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> "A maior parte dos romances e das novelas de Balzac já foram publicadas em Portugal e no Brasil, alguns até em várias traduções. Nunca se fez, porém, uma tradução portuguesa completa da Comédia Humana, conjunto formado de 86 romances e novelas e que, no espírito do autor, constituía uma obra única. Neste sentido, a Comédia Humana é um dos maiores ou talvez o maior projeto já idealizado e realizado na literatura universal por um só escritor . </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> Mesmo em outras línguas são raras as traduções da obra completa. Sei da existência de duas versões inglesas, de uma italiana e uma alemã. Nenhuma delas é anotada.</b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> Na própria França, onde há, naturalmente, várias edições da Comédia Humana, só existe uma anotada, publicada pelo editor <i>Conard </i>e organizada por Marcel Bouteron e Henri Longnon. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> Em face desses dados poderá o leitor avaliar o alcance da presente iniciativa da Livraria do Globo, de Porto Alegre - iniciativa que constitui legítimo título de orgulho da indústria brasileira do livro. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> Esta edição brasileira da Comédia Humana distingue-se pelas seguintes características: </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> I - uma introdução nova, feita por um corpo de tradutores experimentados e conscienciosos, cotejada linha por linha com o texto francês da recente edição da <i>Bibliotheque de la Pléiade, </i>organizada por Marcel Bouteron e considerada definitiva; </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> II - o restabelecimento da divisão em capítulos e dos títulos de capítulos, existentes nas primeira edições feitas por Balzac e suprimidos pela maioria dos editores por motivos de economia; </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> III - a inclusão dos melhores ensaios biográficos sobre Balzac, escritos por seus contemporâneos mais ilustres, e dos estudos mais importantes que à Comédia Humana consagraram os mestres da crítica universal. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> IV - uma documentação iconográfica tão completa quanto possível; </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> V - uma sucinta biografia de Balzac, escrita especialmente para a presente edição pelo autor dessa advertência, que desde anos se vem dedicando a estudos balzaquianos; </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> VI - 86 pequenos estudos introdutivos, um para cada romance ou novela, feitos especialmente para a presente edição, pelo mesmo; </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> VII - notas de pé de página, escritos especialmente para acompanhar o texto da edição brasileira, pelo mesmo. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> A edição foi empreendida num momento particularmente difícil para o pesquisador, ante a impossibilidade total de obter livros da Europa em razão da guerra. Assim, por exemplo, não pôde utilizar a excelente edição Conard para a redação das notas. Se, embora com muitas falhas, o comentador pôde executar a sua tarefa, deve-o às bibliotecas públicas do Rio de Janeiro e à extraordinária gentileza de muitos intelectuais e bibliófilos brasileiros que lhe permitiram dispor das preciosidades de suas estantes, e aos quais expressa aqui a sua gratidão. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> Devo agradecimento a todos os tradutores da grande obra: Álvaro Gonçalves, Berenice Xavier, Carlos Drummond de Andrade, Casemiro Fernandes, Ernesto Pelanda, Gomes da Silveira, Mário D. Ferreira santos, Valdemar Cavalcanti, Vital de Oliveira, Wilson Lousada, cujo trabalho honesto e inteligente merece ser posto em relevo. Cumpre-me assinalar aqui a valiosa colaboração do meu ex-aluno Raymundo Francisco Araújo no cotejo das traduções com o original e nas pesquisas de biblioteca. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> Gostaria, finalmente, de associar os leitores à homenagem que, ao meu ver, cabe à casa editora, - a qual, ciente de sua alta função cultural, teve a coragem de enfrentar tamanha iniciativa. É-me grato lembrar aqui que o Sr. Maurício Rosenblatt, gerente da sucursal do Rio de janeiro da Livraria do Globo, o qual se tornou um balzaquiano fervoroso, foi colaborador mais assíduo do Balzac brasileiro. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> Uma grata lembrança de discípulo vai aqui a meus grandes mestres, a quem devo minha iniciação nos estudos balzaquianos: o Sr. Marcel Bouteron, bibliotecário do Instituto de França e conservador da coleção Spoelberch </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> de Louvenjoul (repositório dos manuscritos de Balzac), suma autoridade em todas as questões relacionadas com o autor da Comédia Humana; o Sr. Fernand Baldensperger, professor de literatura comparada na Sorbone, atualmente na Harvard University, autor de um livro magistral sobre Orientation Étrangères chez Honoré de Balzac e que honrou a nossa iniciativa com um ensaio especialmente escrito para a presente edição, e o Sr. Willian Hobart Ryce, cuja excelente obra de referência, A Balzac Bibliography, constitui um auxílio indispensável em qualquer trabalho que se empreende acerca de Balzac e de sua obra. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> O editor, os tradutores e o organizador da presente edição confiam em que o seu grande empreendimento chegue a termo antes d 1950, data em que se celebrará o centenário da morte de Balzac. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> A ideia desta publicação, concebida num momento em que a França, ocupada pelo invasor, vivia uma das horas mais sombrias de sua história, era a expressão de nossa fé comum em sua ressurreição. Sentimo-nos felizes em verificar que esta esperança se transformou numa realidade, antes mesmo da publicação do primeiro volume."</b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> Rio de Janeiro, fevereiro de 1945.</b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> PAULO RÓNAI </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><u>Este trabalho é gigantesco, mas resolvi disponibilizar os capítulos para que todos tenham a oportunidade de acompanhá-lo. </u></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b>Nicéas Romeo Zanchett </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> </b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><br /></b></div>
livrosdoromeo.blogspot.com http://www.blogger.com/profile/17597755348271466103noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7631564666172648637.post-69489510439404388102014-06-29T09:06:00.002-07:002014-06-29T09:06:34.258-07:00APRESENTAÇÃO DA OBRA <div style="text-align: center;">
<b>APRESENTAÇÃO DA OBRA </b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><br /></b></div>
livrosdoromeo.blogspot.com http://www.blogger.com/profile/17597755348271466103noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7631564666172648637.post-49724995796116209552014-06-29T08:00:00.000-07:002014-07-05T16:23:39.054-07:00BIOGRAFIA SIMPLIFICADA DE BALZAC <div style="text-align: center;">
<b>BIOGRAFIA SIMPLIFICADA DE BALZAC </b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCq6ESSc9vSGOaTGWsgDl7OEs7opvL5I0z0YmH4IxbUqWQrzt-mkMe0NSr9VyjXO64fXoBIbPFPzdB1yOtGWHy_DWrBYOMg5NXKNvgeOvV1tKYrRjQtF_jLc8xbrfVsZElhurr1pjbgcw/s1600/balcac.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCq6ESSc9vSGOaTGWsgDl7OEs7opvL5I0z0YmH4IxbUqWQrzt-mkMe0NSr9VyjXO64fXoBIbPFPzdB1yOtGWHy_DWrBYOMg5NXKNvgeOvV1tKYrRjQtF_jLc8xbrfVsZElhurr1pjbgcw/s1600/balcac.jpg" /></a></b></div>
<br />
<b>.</b><br />
<div style="text-align: left;">
<b> Honoré de Balzac nasceu a 16 de maio de 1799, dia de São Honorato, cujo nome lhe foi dado, em Tours, capital de Touraine, <i>"o jardim da França", </i>uma das regiões mais belas e mais agradáveis Europa. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> Escritor Francês, um dos maiores romancistas de todas as literaturas. Tornou-se muito famoso principalmente pela sua "<i>Comédie Humaine" </i>(Comédia humana), que escreveu entre 1842 e 1848. Esta obra passou a ser o título geral dado por ele ao conjunto de seus romances e contos, através dos quais pintou um verdadeiro mural da sociedade francesa entre a época do Consulado e a Monarquia de Julho. Tinha um plano para executar a segunda edição de suas obras, mas, infelizmente, morreu em 1845, portanto, sem realizar seu sonho. Mas posteriormente seu sonho foi realizado com a publicação das mais modernas edições. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> A seriação de suas obras é feita conforme o agrupamento seguinte: </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> I - Estudos de Costumes: a - Cenas da Vida Privada; b - Cenas da vida de província; c - Cenas da Vida Parisiense; d - Cenas da Vida Política; e - Cenas da Vida Militar; f - Cenas da Vida Rural. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> II - Estudos Filosóficos. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> III - Estudos analíticos. </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b> Dentro desse três grupos, engloba-se a série monumental de uma centena de obras de ficção, algumas das quais constituem obras-primas do romance moderno: <i>Eugénie Grandet, La Cousine Bette ("A Prima Bette"), Le Cousin Pons ("O Primo Pons"), Le PéreGoriot ("O Pai Goriot"), César Biroteau, Le lys dans la Vallé ("O Lírio do Vale"), La Femme de Trent Ans ("A Mulher de Trinta Anos"), etc. </i>A característica principal do gênio de Balzac é a sua extraordinária fecundidade criadora. Entre 1829 e 1848, seu período de grande produção, publicou seus romances em meio a outros trabalhos jornalísticos, de que retirava o sustento. Sua existência sempre foi marcada por dificuldades financeiras. O lançamento do seu primeiro trabalho literário, <i>Les Chouans (1829), </i> que o colocou definitivamente entre os maiores, foi marcado por verdadeiros malabarismos e apertos financeiros. Vivia entre o luxo e a miséria, o dandismo nas festas públicas e no teatro e a amizade feminina. </b><br />
<b> Balzac sempre foi um apaixonado pelas mulheres. Mesmo com todo o sucesso de suas obras no mercado, vivia sem dinheiro. Quando conseguia algum dinheiro imediatamente viajava para a Suíça, Itália e principalmente para a Rússia, onde ia divertir-se até o dinheiro acabar. Entre suas idas e vindas visitou a condessa polonesa Evelina Hanska, <i>l'Étrangere, </i>com a qual manteve longa correspondência e com ele casou-se nos derradeiros meses de de vida. </b><br />
<b> A ideia de agrupar a obra narrativa em um grande todo, sob um título coletivo, embora antiga na mente do escritor, levou muito tempo a ser posta em prática, e só entre 1842 e 1848 saiu volumes em que a ordem é adotada, com o título, que segundo alguns historiadores, foi inspirado no livro de Dante Alighieri <i>(A Comédia), </i>que bem nos mostra a ambição do autor de nos oferecer um quadro completo dos sentimentos, pensamentos, ideias, paixões, e costumes da humanidade, através do desenho da sociedade do seu tempo. Dessa forma, a <i>Comédie Humaine </i>(Comédia Humana) ficou como um retrato histórico, mas também como uma forma de julgamento do ser humano. Descontado esse aspecto circunstancial, o que ressalta é a própria humanidade, analisada com intuição genial e sentido universal, nas suas paixões e anseios. A ideia geral do autor é que o dinheiro é o propulsor fundamental da vida humana do nosso tempo. A busca desesperada pelo dinheiro supera quaisquer outros interesses - seja familiar, religioso ou político. </b><br />
<b> Induzido pela voga científica da sua época, Balzac imaginava aplicar à sua narração da vida humana o mesmo espírito científico com que os naturalistas descreviam os animais e as plantas. Além de sua poderosa imaginação, era dotado de aguda capacidade de observação, daí o realismo de suas descrições de incidentes e, sobretudo, de suas análises de caracteres e paixões, nos dando a impressão de terem sido copiadas da realidade e de suas próprias experiências. </b><br />
<b> A despeito dos laivos românticos de sua filosofia de vida, tornou-se precursor do realismo literário. A originalidade do romance balzaquiano está em unir a imaginação e a observação. </b><br />
<b> No gênio de Balzac associavam-se o observador e o visionário, fazendo nascer o fantástico do real. A descrição dos costumes, a análise de caracteres e a ação aparecem de maneira harmoniosa e habilmente entrelaçadas; isto é nitidamente percebido nos romances de sua melhor fase. Ele consegui a precisão total na descrição dos ambientes, na narração das intrigas e costumes, bem como nos admiráveis retratos em que é riquíssima a sua galeria de personagens principais e secundários. A fórmula balzaquiana consiste na ideia fixa que que todos somos movidos pela ambição dinheiro e amor. </b><br />
<b> A vida e a obra de Balzac é muito rica e ao mesmo tempo extensa e complexa. Para compreendê-lo é necessário conhecer cada fase de sua vida, que, aliás, está nestes escritos. <i>Biografia e Mistério, Uma época para romances, A herança paterna, Mãe e filho, A irmã preferida, A vida no colégio, etc. </i></b><br />
<b> A obra de Balzac é, portanto, um vivo documentário histórico-social e econômico, mas, pela perfeição clássica que atingiu no gênero romanesco, possui valor estético em si mesma. </b><br />
<b>Nicéas Romeo Zanchett </b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
</div>
livrosdoromeo.blogspot.com http://www.blogger.com/profile/17597755348271466103noreply@blogger.com0