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terça-feira, 1 de julho de 2014

´BALZAC - OS PRIMEIROS ROMANCES


BALZAC - OS PRIMEIROS ROMANCES 
                   "Rousseau e Richardson  haviam iniciado a moda dos romances sentimentais, devorados por um número sempre crescente de leitores.  Este novo público nada tinha a ver com os leitores eruditos de outrora, amigos e colecionadores de belos liros. As moças liam com sede de aventuras, liam em busca de emoções e de evasão, liam para matar o tempo. Uma vez lido um livro, nunca mais o retomariam. Pouco olhavam para a qualidade e não faziam questão e possuir a obra cuja literatura terminaram. As exigências de tal público deram um surto extraordinário à instituição dos gabinetes de leitura onde os livros se emprestavam por um tanto o volume.  Os donos, portanto, preferiam obras em muitos volumes: um leitor que tivesse lido o primeiro volume era um freguês certo para todos os outros. Por sua vez, os editores, cujos consumidores eram justamente os gabinetes de leitura, procuravam satisfazê-los. Não somente encomendavam romances longos, como também reduziam o formato, alargavam as margens, esbanjavam o papel, numa palavra - faziam tudo para dividir um só romance no maior número possível de volumes. Os escritores, naturalmente, não deixavam de se adaptar às exigências da moda: estiravam os romances multiplicando os episódios, arrastando os heróis de uma série interminável de aventuras, não se decidindo a matá-los  senão depois de várias mortes simuladas e outras tantas ressurreições; por outro lado, ao chegar no fim de um volume, interrompiam a ação no ponto culminante, com o fito de espicaçar a curiosidade do leitor. 
                Assim as características do novo gênero foram em parte determinados por motivos puramente técnicos e fortuitos. Em sua evolução também interferiram, no entanto, influências literárias, sobretudo inglesas.  Na Grã-Bretanha perdurava o sentimentalismo doentio e lúgubre, característico do pré-romantismo, produto dos cantos do pseudo Ossian, das Noites, de Young, e de toda uma poesia sepulcral. Da lírica, a melancolia passou para o romance, mas degenerando em frenética procura de impressões terrificantes. Nos romances sombrios de Lewis, de Maturin, de Anne Radcliffe há um não acabar de subterrâneos, de castelos abandonados, de assassinos, de aparições e fantasmas - bastante parecidos à horrível literatura de quadrinhos das atuais revistas infantis. 
                   Se demorarmos em descrever os traços dessa "literatura", foi porque eles caracterizam perfeitamente os romances escritos por Balzac de 1822 a 1825. Tive a pachorra de ler esses trinta volumes da primeira à última página, e fiquei espantado com o seu nível baixo. Apenas nos últimos desses romances se vislumbra, de vez em quando, uma observação curiosa ou uma frase bem cunhada, mas que de forma alguma anuncia o criador da Comédia Humana.
                   O próprio Balzac não tinha a menor ilusão a respeito dessas publicações, tão puco as levava a sério que, para acabá-las mais depressa, pedia à irmã que escrevesse por ele capítulos inteiros. Em suas cartas a esta não exita em qualificá-las de "porcarias literárias", e certa vez exclama: "Contudo, é preciso escrever, escrever todos os dias para conquistar independência que me recusam.  Procurar tornar-se livre por meio de romances, e que romances! Oh, Laura, que tombo de meus sonhos de glória! Mas a melhor prova de que Balzac julgava em seu justo valor A Herança de Birague, Jean-Louis ou a Enjeitada, Clotilde de Lusigan ou o Belo Judeu, O Centenário ou os dois Beringheld, O Vigário das Ardenas, A última Fada ou a Nova Lâmpada Maravilhosa, Annete e o Criminoso, Wann-Chlore, é que não punha o seu nome em nenhum deles, mas publicava-os sob pseudônimos - Lord R'hoone (anagrama de Honoré) , Horace de Saint-Aubin, etc. - ou anonimamente. Em seguida, embora necessidades de dinheiro o tenham forçado a negociar outra vez os direitos dessas obras, não as quis jamais reconhecer publicamente. 
                  Esses livrecos, bastante bem pagos pelos editores, que, acossados pelo público, lançavam qualquer  coisa, deram para Balzac viver e permitiram-lhe não adotar outra profissão; não resolveram, porém, o problema da independência tão desejada. Por outro lado, cada mau livro saído de sua pena confirmava o julgamento dos seus a respeito de sua incapacidade. 
                   Tudo isso era de péssimo agouro para uma futura glória literária. Sem dúvida, Balzac continuava a crer firmemente em seu talento, mas encontrava obstáculos terríveis: a pobreza, a desgraça dos amigos e os sarcasmos da família, e, principalmente, a falta de espontaneidade com que se exprimia, a dificuldade em encontrar as palavras exatas, em escrever com elegância. Talvez desistisse se não lhe tivesse chegado, no momento oportuno, o mais precioso dos auxílios. Conseguiu comunicar a outra pessoa sua fé ardente em si mesmo." P.R. 

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Por 
Nicéas Romeo Zanchett 

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