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segunda-feira, 30 de junho de 2014

BALZAC - A IRMÃ PREFERIDA


BALZAC - A IRMÃ PREFERIDA 
                    "Dos três irmãos de Balzac, sua irmã Laurence, casada jovem e morta pouco depois de casada, e seu irmão Henry, que a sede de aventura levou cedo às colônias, não lhe inspirava atenção particular. Todo o seu carinho concentrava-se em Laure, a mais moça das irmãs, que lhe retribuiu condignamente. Sempre foi amiga fiel e prestativa do irmão, em cujo talento teve confiança desde muito cedo e ao qual até ajudou, com a sua colaboração nas primeiras tentativas literárias. O casamento de Laure não modificou as relações cordiais dos irmãos, graças à simpatia que seu marido, o engenheiro Surville, soube inspirar a Balzac, que mais de uma vezo consultou a respeito de seus miríficos planos de negócios. Com raras exceções, que Balzac aliás atribuía às intrigas da mãe, o afeto dos irmãos permaneceu firme. No entanto, num momento de ânimo escreveria à noiva, comparando a situação desta à sua própria: "Por mim, eu não tenho ninguém, e o coração de minha irmã é bem pouca coisa, pois ´martelado por minha mãe, que passou a vida a nos opor um ao outro. Não é que minha imã, aos quarenta anos, se lembrou de escrever e de crer que tem talento! Pois minha mãe lhe diz que tenho ciume dela!" Arrefecimento mais longo parece ter sido aquele que sobreveio a Balzac nos seus últimos anos de vida, que ele passou em grande parte na Rússia, junto à condessa Hanska, sob cuja influência se afastou sentimentalmente da família. Laure perdoou esta falta ao irmão, mas não à futura cunhada, a quem, entre amigos, acusava de ter contribuído para a morte de Balzac com a desilusão que lhe causara. Esse ressentimento é confirmado pela bela biografia de Balzac, publicada poucos anos depois da morte deste por Laure Surville, na qual não se lê a menor alusão à condessa Hanska, heroína do grande romance de amor de Honoré durante dezesseis anos e sua mulher nos últimos meses de vida do escritor.  
                 Aos vinte anos de idade, porém, quando Balzac  ainda não tinha um sentimento trágico da vida, o agitar-se dessas curiosas figuras à volta dele inspirou-lhe apenas um interesse terno e divertido.  Como o revelam as cartas que por essa época escreveu a Laure, o espetáculo da família, a presença de conflitos miúdos e interessantes naquele círculo tão estreito, a originalidade do caráter do pai, da mãe e da avó inspirava-lhe desde cedo o desejo de por aquilo no romance. Esse desejo nunca foi realizado por causa de instintivos escrúpulos de delicadeza; mas deu o primeiro impulso ao talento do romancista e ofereceu-lhe inesgotável mina de observação. Foi nesse ambiente reduzido, em que cada um espreitava as palavras e os menores gestos dos outros, que ele criou o hábito de observar cenas na aparência insignificantes, de buscar, disfarçados em conversações anódinas, germes de conflitos e choques de sentimentos e paixões." P.R. 

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